Barco no pego D´Andorde no ano de 1947
Raramente nos debruçamos sobre o significado do nome de certos locais que ao longo dos anos conhecemos, localizamos e frequentamos.
Contudo se o nome porque denominamos esses locais na actualidade, não tem um significado aparente aos olhos de hoje, terá tido, com certeza, uma razão aquando da sua nomeação, mas que cujo significado hoje desconhecemos apesar de, por vezes, se continuar a assistir a uma continuidade de certas praticas remotas.
Porém, convém realçar que tem de se olhar com algum cuidado, quando se tenta encontrar uma explicação satisfatória, para a nomeação de tantos lugares e expressões que hoje desconhecemos.
No mundo Celta, certos pegos nas ribeiras, poços e fontes de água eram locais sagrados e de peregrinação, como se observava no Pego do Sino junto ao Castro da Cola, onde as populações locais, até aos anos sessenta do século XX, lhe atribuíam propriedades curativas e se banhavam para curar alguma maleita que os atormentava, de notar que a raiz da palavra sino se encontra igualmente em Sintra, a montanha da lua e no monte Sinai com o mesmo significado, monte da lua.
Igualmente em Garvão e em referência aos locais sagrados junto a cursos de água encontra-se o Pego Dandorde ou D´Andorde, na base do serro, (denominado Castelo), onde supostamente se situava um santuário pré-cristão e em cuja encosta se localiza o Depósito Votivo, (local onde o enorme número de oferendas, no santuário, eram guardados).
Este pego D´Andorde, local que ainda na primeira metade do século XX era local de visitas/recreio da população de Garvão, (havia inclusivamente um barco), no inicio da Primavera, reverte, obviamente, para um período anterior em que este pego se revestia de alguma sacralidade senão mesmo peregrinação que se perpetuou no tempo e cuja memória local o associa como local de prazer e de recreio atá aos anos cinquenta/sessenta do século passado.
Sobre a origem da palavra D´Andorde, poder-se-á tecer várias considerações, contudo o mito em torno do deus grego Adónis; por ser de origem fenícia; por ser uma palavra semita Adonai, que significa “senhor” ou “deus” e por esse culto se encontrar igualmente na Península Ibérica, teremos de colocar esta palavra como uma das hipóteses que eventualmente terão degenerado em Andorde.
De acordo com a mitologia grega, Adônis era um jovem de extrema beleza que nasceu de relações incestuosas, mais tarde passou a despertar o amor de Perséfone e Afrodite. O culto de Adónis era celebrado em toda a Fenícia e, especialmente, em Biblos. Os devotos do culto a esta divindade plantavam pela Primavera os chamados “Jardins de Adonis”, cujo objetivo era de simbolizar a renovação da natureza. Adônis tornou-se o simbolo da vegetação que morre no inverno e se renova na Primavera.
Nos antigos festejos da primavera, (hoje denominados 1º de Maio, dia do trabalhador), esse tipo de espírito da vegetação era geralmente representado junto a árvores, fontes e outros lugares sagradas e por dançarinos e dançarinas vestidos e adornados com motivos florais; folhas verdes, ramos e flores, encarnavam o espirito da vegetação, da renovação da vida depois dos meses de trevas do Inverno.