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Jan 18

Manuel Domingos (Espanhol)

Morador na Sardoa

 

            Na vila de Garvão temos famílias que apesar do nome próprio e familiar, são conhecidas pela alcunha de “Espanhol” ou “Espanhola” conforme o caso.

            Ainda há relativamente pouco tempo Manuel Domingos, morador na Sardoa, já falecido, era conhecido pela alcunha de “Espanhol”, alcunha essa que apesar de não estar já tão difundida nos seus descendentes, ainda os mesmos são conhecidos por tal, entre a população mais idosa.

            Esta vinda de espanhóis para o Alentejo aparece documentada nos vários assentos de baptizos, (como pais dos recém-nascidos), casamentos e óbitos das várias paróquias nesta zona do Alentejo em séculos anteriores, onde consta não só o nome dos pais e avós no caso dos recém-nascidos e pais dos nubentes nos casamentos e no caso dos falecidos, como igualmente a naturalidade dos mesmos.

            Assim nos vários assentos da paróquia de Garvão, consta indivíduos nascidos em Vilanueva de Castelejos, El Almendro e doutras terras Onubenses, em Espanha, nomeadamente os Domingues, os Barra, os Bandarra, os Pedro, os Jesus, os Ramos e os Boreira entre outros.*

            Encontram-se assim os Domingues, ou na aportuguesada forma de Domingos, a morar na Sardoa, como já se mencionou, igualmente os Barra, naturais de Castelejo, a morar na rua Direita desta vila, dos quais uma descendente veio a casar com um Malveiro, encontra-se igualmente o registo de uma Maria Isabel, natural do Castelejo igualmente casada com um Malveiro, entre outras famílias oriundos da mesma região.*

           No livro da Irmandade do Sagrado Espírito Santo e da Santa Casa da Misericórdia de Garvão, encontra-se, em anotação lateral, no fólio 98 verso, a menção a Bartholomeu Dominguez Espanhol, em data anterior a 1842.
          Nesta data, mais precisamente em 20 de Julho de 1842, este Bartholomeu Dominguez Espanhol, entregou ao tesoureiro da Misericórdia, o total da dívida contraída por Manuel Fernandes da Horta e sua mulher, em 12 de Fevereiro de 1808, da quantia de quarenta e oito mil réis, dando estes como garantia as casas que possuíam na Rua Direita.
          Estamos assim perante uma venda, Bartholomeu Dominguez Espanhol, ao pagar esta dívida, contraída por outros, terá igualmente tomado posse das casas dadas de garantia, tratando-se de facto de uma compra e venda.

            O movimento inter-fronteiriço de pessoas, por motivos mercantis, nos dois sentidos, caracterizava as relações destas povoações da raia portuguesa-espanhola desde os tempos mais remotos e o que até à introdução e fiscalização das modernas fronteiras era entendido como uma actividade costumeira e secular, passou-se a classificar, (a normal troca de produtos), como contrabando e como tal punível por lei, com enormes consequências para estas populações, nomeadamente os mais recentes “contrabandistas” de café e açucar, vitimas de perseguição, prisão, violência e perda dos produtos e bens monetários, com enormes repercursões nas vivências diárias destas gentes.

            Sobre as actividades mercantis destas populações existe um livro de fianças do reino de 1789 respeitante à Alfândega de Alcoutim, (na Torre do Tombo), onde menciona o movimento destas gentes da raia de Espanha para o Sul alentejano, “Uma percentagem acima dos 95% indica-nos nomeadamente de Villanueva de los Castillejos, Almendro, S. Lucar, Alosno, Moguer, Villablanca, Alcaria Puebla, Torredonjimeno (Jaén), Granado, Almendralejo, Cádis...

            Este Livro da Alfandega de Alcoutim, divulgado pelo Professor Dr. Hugo Cavaco – “Alcoutim no Último Quartel do Sec.XVIII: Arrematações de Rendas e Fianças – Retrato do Concelho”, menciona igualmente de que estas gentes, “Dirigem-se em regra para o Baixo-Alentejo e Algarve, às vezes para Évora e Lisboa ou para Espanhas sem indicar localidade.

Fala-se no ofício de oleiro, barbeiro, caldeireiro e soldador (estes espanhóis), mas nada mais se adianta sobre qualquer outra actividade que fizesse lembrar a Indústria.

            Adianta igualmente o que o dito livro menciona sobre a mercadoria afiançada, “Para além do animal de transporte, declara-se, na maior das percentagens: “a girar”, isto é, à procura de qualquer negócio que se possa realizar, sem escolha prévia. Depois, outros tratos mercantis se nos deparam, tais como – comprar mel, “farrobas” em Tavira, venda de azeite e copos de vidro, levar fazendas, capachos, figo, esteiras e cera para Espanha, cobrar dinheiros, comprar peixe (atum) em Tavira, vender sal e “panos pretos da Serra”, negociar reses, “fazer feiras” em Garvão, Beja, Loulé, Tavira, Vila Real de Santo António e Faro, levar erva-doce e “cetim de seda” para a Corte de Lisboa. Outras vezes passam a fronteira “de vazio”, visitam familiares que residem fora do seu país, vão a banhos a Monchique.

           Com as invasões francesas em Espanha a partir de 1810 assistiu-se igualmente à fuga destas gentes para o Sul alentejano devido aos actos de represálias e violências cometidos contra as populações de certas localidades Onubenses, nomeadamente as povoações de Vilanueva de los Castellejos e da vizinha vila de El Almendro, (embora juntas a primeira pertencia ao condado de Niebla e a segunda ao marquesado de Gibraleón), situadas a cerca de vinte quilómetros da raia portuguesa na confluência do Alentejo com o Algarve.

            Existe igualmente documentação que atesta não só o regresso destes imgrantes às suas terras de origem, em Espanha, como igualmente a revinda destes, possivelmente porque já tinham criado raízes em Portugal e de novos imigrantes quando a situação politica se apresentava instável como nas lutas entre liberais e absolutistas entre os anos de 1814 e 1833.

 

* Informação prestada por Beatriz Rodrigues

publicado por José Pereira Malveiro às 20:52

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