O ZEBRO
Mencionado no Foral Velho de Garvão, 1267.
Consta no Foral-Velho de Garvão de 1267, no fólio cinco rosto, a menção a um animal denominado por Zebro/Zebra ou Zevro/Zevra que habitaria a Península Ibérica e teria desaparecido por volta do século XVI, cuja carne era consumida juntamente com outros animais selvagens e cuja venda, da pele curtida destes animais, pagava de portagem, ao concelho, dois denários em pé de igualdade com as peles curtidas das vacas.
(...) corio de vaca et de zevra duos dinarios. De corio de cer
vo et gamo três mealias. De carrega de cera quinque silidos.
De carrega de azeite quinque sólidos. Istud portagium de
hominibus foras ville tercia pars de suo hospi
te, et due parte de ordino.
Que corresponde ao português actual:
(...) coiro de vaca ou de zevra, dois dinheiros[1]; de coiro de veado e de vaca e gamo, três medalhas; de carga de cera, cinco soldos; de carga de azeite, cinco soldos. Esta portagem é dos homens de fora da vila; a terça parte desta portagem dê-se ao hospedeiro[2] e duas partes à ordem
Segundo alguns textos medievais seria um animal com uma estrutura semelhante a uma égua, ou se tivermos em atenção a origem da palavra Zevro, do Arabe "Zarb" que corresponde a Burro selvagem, seria assim, de facto, um Burro selvagem que errava nos matagais que cobriam estes territórios no princípio da nacionalidade.
A cor da sua pelagem seria acinzentada com o focinho escuro e teria como característica principal várias listas escuras nos membros dianteiros e no dorso que se prolongaria desde o lombo até à cauda. Se a origem da palavra Zevro ou Zebro se encontra numa lingua trazida por povos invasores pelo Norte de África que denomina um animal que se encontrava em Portugal, não deixa de ser curioso que os navegantes portugueses, quando chegaram a África, ao verem aqueles animais listrados os tivessem apelidado do mesmo nome e conhecidos até hoje como Zebras em detrimento das denominações nas linnguas locais.[3]
O consumo da carne destes animais perpectou-se no tempo e ainda hoje, em várias aldeias do país, manteve-se o costume de comer carne de burro, num quadro festivo religioso em que este animal seria sacrificado e a sua carne consumida num grande banquete ritual.[4]
Igualmente encontra-se, de norte a sul do pais, vários topónimos alusivos ao Zebro, nomeadamente, Vale Zebro, Zebreira ou Azebreira, Zebro de baixo e Zebro de cima, Horta do Zebro, Alto do Zebro, Monte Zebro, Zebras (Fundão), Zebreira (Idanha-a-Nova), ou denominados Zebral (Vieira do Minho), Zebras (Valpaços) e Zebreiros (Gondomar), entre outros.
Certos investigadores entendem que o Zebro seria descendente, senão o próprio, "Equus Hydruntinus", um equídeo pré-histórico que teria vivido na Europa há cerca de 12.000 anos e teria sobrevivido até ao século XVI nas extensas matas e matagais que cobriam o território, há quem defenda igualmente que o actual cavalo de Sorraia descende do Zebro.
[1] Sobre o valor das moedas mencionadas, o Morabitino ou Maravedi valia 15 soldos, o soldo valia 12 dinheiros, o dinheiro ou denário valia 2 mealhas, ou medalhas que valiam assim meio dinheiro.
[2] Hospedeiro - Aquele que no concelho dava hospedagem ao mercador vindo de fora e que por isso tinha direito a um terço da portagem, por este pago.
[3] A Zebra, ou sub-espécies, em Swahili denomina-se Pundamilia, em Sesotho, Qoaha, em Chichewa, Mbidzi e em Yoruba, Abila.
[4] Nomeadamente nas aldeias de Manigoto e Lameiras, no concelho de Pinhel, onde se preservou o costume de comer carne de burro por ocasião das festividades populares onde o burro é sacrificado e consumido por todos os habitantes num grande banquete público.