(Desenho de Pregoeiro Medieval)
JOAQUIM POMBO
O Último Pregoeiro de Garvão
Ainda há relativamente pouco tempo, subsistia em Garvão um uso herdado dos tempos mais recuados em que Garvão era concelho. Um dos funcionários da Câmara, para além do Escrivão, Vereadores, Tesoureiro e Procurador do concelho entre outros, havia também o pregoeiro. Num reino cuja população era, na sua quase totalidade, analfabeta, tornava-se fundamental anunciar as decisões que se passavam a escrito.
Este costume municipal, apesar da extinção do Concelho de Garvão em 1836, persistiu até aos anos sessenta do século XX, já não a anunciar e a apregoar as decisões camarárias, mas a pregoar ou anunciar as várias transações ou trocas entre os populares que pretendiam, vender, trocar ou comprar alguns bens supérfluos ou que necessitavam, a carne no açougue ou a venda de produtos frescos era também anunciada pelo pregoeiro.
Este não só apregoava, nos locais públicos da povoação, as decisões tomadas pela Câmara, mas anunciava igualmente as diversas arrematações dos bens concelhios, o que era permitido ou proibido e cujo interesse era necessário divulgar entre a população.
Na Idade Média tudo se apregoava: novidades do dia, decisões de polícia ou de justiça, levantamentos de impostos, leilões ao ar livre na praça pública, mercadorias para venda, geralmente junto aos paços do concelho ou junto do pelourinho,
Em Garvão, a lembrança leva-nos até aos princípios da década de sessenta do século XX, quando o último pregoeiro, Joaquim Pombo, no alto do serro do castelo pregoava os vários bens que a população pretendia vender, comprar ou alguma coisa perdida ou achada, assim como os taberneiros mandavam apregoar o vinho novo.
Seria. sem dúvida, homem de garganta poderosa e boa memória visto não ter nada escrito e ter de memorizar o que pretendia apregoar ou anunciar, começava por chamar a atenção com o barulho de umas matracas feitas em madeira que produzia um som que se ouvia na povoação e tinha uma rima própria com que anunciava o pretendido, começava por “escutem bem, escutem bem o que tenho a dizer” e depois de relatar o que pretendia, terminava com a frase “por hoje é tudo, amanhã há mais, se calhar”.