Desenho do Pelourinho de Garvão.
Segundo informação do Doutor António Martins Quaresma:
“Num tombo da câmara de Garvão, de 1826, encontra-se uma descrição do pelourinho, que acho interessante.
Envio-lha, com o resto do que escrevia já, para poder comparar com o que tem no quintal.
Na Praça, hoje, Largo D. Afonso III, encontrava-se a casa da Câmara, o poço da Praça e o pelourinho. Este, segundo um tombo de 1826, estava implantado, “quazi no meio da Praça do lado do poço para o poente em huma piramide feita de pedra e cal, lageada com pedras pardas, e tem tres degráos, que diminuem gradualmente, estando no meio do ultimo o pelourinho, que he de pedra mármore redondo com sua simalha quadrada, e em cima desta huma piramide mais delgada e da mesma pedra marmore, que serve de padrão desta villa, e nelle se afixarem os papeis que lhe mandão publicar [...] acharam que em cada lado do dito [primeiro] degráo tem trez varas[1], e que he quadrado”
A descrição permite vislumbrar uma imagem, sem pormenores, do pelourinho. A plataforma, de três degraus de alvenaria lajeada de pedra escura, tinha planta quadrangular. O fuste era liso e o capitel, de faces quadrangulares, era encimado por elemento piramidal, tudo de mármore.”
Esta informação permite visualizar o que seria o Pelourinho de Garvão e desenhar a imagem acima reproduzida.
Sobre a existência do Pelourinho em Garvão, vários autores a ele se têm referido, nomeadamente Pinho Leal na sua obra, Portugal Antigo e Moderno,[2] obra em 12 volumes, publicados em Lisboa, entre 1873 e 1890 e de todos os outros dicionários Chorográphicos e Históricos, que se lhe seguiram.
Como símbolo da autonomia concelhia, estava edificado no centro da vila e diante dos Paços do Concelho no Largo da Praça, hoje também denominada por Largo D. Afonso III.
A memória da população sobre a existência física deste monumento, era nula, resumindo-se unicamente a algumas pessoas de idade avançada que, em 1974, se lembravam de algumas pedras espalhadas pelo largo e que iam sendo levadas pela população para as mais diversas obras particulares, sem, contudo, precisarem a sua proveniência ou as relacionarem com o monumento em causa.
Em conversa com o “Ti Vilhena”, residente no Largo da Praça, por volta de 1974, sobre o Pelourinho e depois de uma breve explicação sobre do que se tratava, respondeu mais ou menos com estas palavras: “Oh! Isso é coisa muito velha, eu já não me lembro nada disso, mas parece que havia para aí umas pedras no meio do Largo (Largo D. Afonso III) que as pessoas à medida que iam precisando iam-nas carretando, uns para uma coisa, outros para outras, até que as levaram todas”.
E noutra ocasião da conversa na esperança de se saber mais ou menos quem as levou ou onde estariam: “Olha, onde está uma pedras dessas, que levaram fazer não sei o quê, é na rua ao pé das hortas, e aqui nestas casas (diante da actual casa Paroquial) levaram também umas para fazer as escadas para o quintal “.
Porta essa ainda visível, mas actualmente tapada, quanto à pedra junto às hortas trata-se realmente de uma coluna incompleta, possivelmente uma parte do Pelourinho, está actualmente guardada nas casas do autor, em Garvão.
Igualmente numas casas da Travessa do Álamo, quando se procedia ao rebaixamento de uma divisão, recentemente adquirida, para servir de garagem, encontrou-se uma pedra que se julga ser a parte superior que remata o pelourinho, embora a confirmação esteja dependente da boa vontade da proprietária que se tem mostrado intransigente até agora.
Coluna mármore.
Recolhida junto às hortas, depois do Furadoro e Estrada Real. No contexto actual da investigação, torna-se dificil associar esta coluna, incompleta, ao Pelourinho, ou se estará relacionada com a coluna que se encontra na travessa do Álamo.
Coluna de mármore na Travessa do Álamo. COLUNA “ROMANA” - História e Arqueologia não é só Desvendar o Passado é Também Construir o Futuro - GARVÃO (sapo.pt)
É de admitir que a origem do pelourinho remonte a época anterior à da civilização romana. Desde logo porque semelhantes estruturas com a mesma função se encontram em locais onde a presença de Roma não se fez sentir, como o Médio Oriente e a Ásia.[3]
O que mais me dói na pátria é não haver correspondência no espírito dos Portugueses entre o seu passado e o seu presente. Cada monumento que o acaso preservou inteiro ou mutilado – castelo, pelourinho, igreja, solar ou simples fontanário – é para todos nós uma sobrevivência insólita, que teima em durar e em que ninguém se reconhece. Olhamos os testemunhos da nossa identidade como trastes velhos, sem préstimo, que apenas atravancam o quotidiano. Que memória individual ou colectiva se relembra nesta crónica ameada? Miguel Torga, Diário XIII.
[1] Vara era uma unidade de medida de comprimento antiga, utilizada até à introdução do sistema métrico. Tinha sensivelmente a medida de 1,10 metro.
[2] Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal. Portugal Antigo e Moderno: Diccionário Geográphico, Estatístico, Chorográphico, Heráldico, Archeológico, Histórico, Biográphico & Etymológico de Todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal e Grande Número de Aldeias. publicados em Lisboa pela Livraria Editora de Mattos Moreira. Volume Terceiro, 1874. P. 259/260.
[3] ROSA, António Amaro – Os pelourinhos da Lusitânia (1820-1974): do vandalismo oitocentista à reabilitação pelo Estado Novo. Dissertação de Mestrado em Estudo do Património apresentada à Universidade Aberta, Lisboa, 2014. P.12.