E A “PEDRA” JUNTO À PORTA DO SR ZÉ CONDUTO
![]()
No “Livro do Tombo do Concelho de Garvão”, com a data de 9 de Maio de 1826, consta, no fólio trinta e nove, a menção ao Lagar de Cera, pagando em cada anno no dia de Natal, 100 réis, ao Concelho.
Tinha de comprimento, aproximadamente 24 metros e de largura, cerca de 22 metros. Sobre o local onde se situava, se por um lado menciona a Rua da Igreja, por outro lado menciona a Estrada Real e o Curral do Concelho, sendo a sua localização imprecisa neste momento.
Auto de Vistoria, Medição, Confrontação e
Tombação de hum terreno.
O Terreno do Lagar de cera junto a esta villa, de que he
Ephyteuta Maria de Jesus, paga de fôro pelo Natal - - - 100 (réis)
(…) no princípio da rua da igreja o terreno de que é ephyteuta Maria de
Jesus viúva de Diogo Domingues (…)
(…) nelle se achava edificado um hum Lagar de fabricar cêra Amarella,
com todos os seus pertences, e hum quintal de semear murado de taipa e
pedra, e nelle duas oliveiras, e huma figueira (…)
(…) que parte do Norte com rua, do Nascente com estrada Real, do Sul
com curral do Concelho e do Poente com casas do mesmo ephyiteuta (…)
(…) tem de comprimento de Norte a Sul vinte e quatro varas; na
cabeceira do Norte dez; e na do Sul dezanove varas e meia (…)[1]
Tratava-se de hum Lagar de fabricar cêra Amarella, usada na preparação de vernizes, substâncias de limpeza e conservação de móveis, a mencionada descrição não menciona a fabricação de cera branca, usada quase exclusivamente na fabricação de velas tradicionais para iluminação e velas religiosas.
O processo de fabricação envolvia um moroso processo de aquecimento, prensagem e decantação. Na fase de prensagem, numa enorme viga, estava encaixada num parafuso de madeira que dois ou quatro homens rodavam e ao baixar a viga, esta fazia pressão no recipiente com a cera para a escoar. Este parafuso de madeira estava preso a um enorme peso que forçava igualmente a trave para baixo na ajuda à prensagem.
A pedra que se encontrava na esquina da casa do Sr. Zé Conduto, tudo aponta para que seja o peso, do lagar de cera, que força a trave para baixo.
Junto à porta da loja do Sr. Zé Conduto, loja de roupas e chapelaria nos anos sessenta do século passado, na rua Direita, à esquina da ladeira que dá para a ribeira, estava uma pedra redonda em forma de mó, de grandes dimensões, branca, possivelmente de calcário ou de mármore.
As suas dimensões não correspondem ao tamanho das pedras de mó conhecidas, demasiado larga, alta e pesada para tal função, terá de se procurar a sua utilização noutra actividade.
[1] Em Portugal, antes da introdução do sistema métrico, a vara era uma antiga unidade de medida linear com o valor de aproximadamente 1,10 metros. Era uma unidade base de comprimento, utilizada nomeadamente na construção, que podia subdividir-se em 5 palmos ou 3 côvados.