A ligação à Galiza
Qual a antiguidade do nome de família Malveiro?
O que é que terá surgido primeiro, o lugar ou o apelido?
Se em termos toponímicos temos vários exemplos de Norte a Sul no mundo Galaico-português, também em termos patronímicos se encontram diversas famílias a portar este sobrenome.
Se até agora as diversas pesquizas se têm debruçado sobre a origem deste toponímico/patronímico em Portugal, localizando a mais antiga referência ao apelido Malveiro no século XV, (de realçar aqui as contribuições de José Maria Ferreira, Beatriz Rodrigues, Ana Josué, Luís Soveral Varella e J. Valdeira entre outros, no site “geneall”), têm surgido ultimamente, graças à entrada de novos documentos on-line e ao Google maps, novas informações sobre este nome, desde o século XIII, não só em Portugal mas igualmente na Galiza e na França, caso incluamos a localidade francesa de Malvières.
No livro “Coisas Velhas de Velhos Tempos”, Amândio Quinto,[1] referencia a povoação da Malveira, no concelho de Mafra, em 31 de Março de 1363, pois neste ano o Prior de Santa Maria de Cheleiros, Vicente Annes Fróis, faz referência ao Casal da Malveira no seu testamento.[2]
Da origem deste logar nada se pode averiguar, sabe-se que no anno de 1363 já existia o Casal da Malveira; pois que assim foi mencionado nas disposições testamentarias feitas pelo padre Vicente Annes Froes, prior de Santa Maria de Cheleiros, em 31 de março daquelle anno. [3]
Já antes, em 1261, no reinado de D. Afonso III, surge uma outra referência à Lezíria da Malueyra, segundo informação do mesmo autor na: obra de pesquisa histórica, ORIGENS DAS REGIÕES, senhor VALDÊZ – que viveu na Malveira, bem como seus descendentes – realizada ainda no século XIX (previsivelmente concluída no ano de 1896), [4]
No Riba Tejo, defronte de Villa Franca de Xira, ha uma leziria com o nome de Malveira, que nos primeiros tempos da monarchia era tambem conhecida pela de D. Sancha.
O alcaide, alvasis e todo o concelho de Santarem fizeram de sua livre e espontanea vontade em 15 de dezembro de 1261 doação a el-rei D. Affonso III da leziria “Malueyra, e outras".[5]
Esta referência de 1261, remete-nos para o período das guerras de reconquista, não sendo prudente, pelo menos nesta fase da investigação, idealizarmos uma origem noutras línguas anteriores à reconquista cristã, contudo, tudo aponta para estamos perante uma denominação já existente nos princípios da nacionalidade.
Ainda sobre as doações, referentes a esta leziria Malueyra, o mesmo autor, menciona a doação efetuada no reinado de D. Dinis em 1318 e no reinado de D. Pedro I em 1357.
- Diniz, em 23 de julho de 1318, fez em Lisboa doação a Estevão da Guarda da leziria, que chamavam de D. Sancha, e estava no meio do rio Tejo, contra Santarem, sobre a Malveira".[6]
- Pedro I por carta passada em Lisboa a 29 de junho de 1357, confirmou a doação a Estevão da Guarda da sua leziria Malveira, que também chamavam de a Sancha, e estava no meio do rio Tejo. [7]
Constituida em 1836 a Companhia das lezirias do Tejo e Sado, passou a leziria da Malveira dos almoxarifados da corôa para a posse da dita Companhia.[8]
(…) Hey por bem, & me praz que daqui em diante nenhum barqueyro vá ás ditas Eyras das terras do dito Almoxarifado da Malveyra, (…)[9]
Na Galiza. encontra-se identificado nos mapas, junto à Igreja de Santa Maria de Seteventos, no concelho de Savinhão, em Lugo, um lugar designado por Malveiros. Segundo Mª Teresa C. Moure Pena,[10] referindo um documento de 1389, do antigo mosteiro de Monjas Beneditinas de Santo Estebo de Chouzán, em carballedo, Lugo, Galiza, descreve as desavenças sobre a herança de vários bens fundiários,
"Era de naçenda de Ihesu Christo de mill e trecentos e oytenta e nobe annos oyto dias de março estando en villa (…), (…) e deron a dita Moor Lourenço sua tya en partiçom hun casar de herdade en Malveyros que e su o syno de Sancta Maria de Seteventos (…)[11]
Em Pastoriza, na Corunha temos a Rua Malveira.
Encontra-se igualmente em Cariño na Corunha, no mar Cantábrico, a ilha Malveira, assim como os miradouros Malveira um e dois e a Penha Malveira, assim como a associação de atividades lúdicas, a Agrupación Cultural Malveira.
Por sua vez, junto a Vilagarcia de Arousa em Pontevedra, já no Oceano Atlântico, vamos encontrar a Ilha Malveira Grande e a Ilha Malveira Chica, assim como a Asociación Cultural Malveiras em Vilagarcía de Arousa.
Apesar de afastadas cerca de 185 km uma das outras, estas ilhas denominadas por Malveira, têm em comum o facto de serem pequenas, sem condições de permanência humana e junto à costa.
O facto de se encontrar de Norte a Sul de Portugal, vários topónimos derivados da palavra Galiza, nomeadamente na zona da Malveira da Serra e da Malveira junto a Mafra, (Póvoa da Galega, Aldeia Galega da Merceana, Moinho da Galega e várias ruas, lugares ou becos denominados por Galega, Galegas, Galego ou Galegos), não é de excluir a origem Galega do toponímico Malveiro.
Contudo, também não é de excluir, a origem comum, no léxico Galaico-português, deste fonema, e a dispersão desta palavra tanto poderá ter ocorrido a partir dos locais na Galiza como de Portugal. A nomeação de um certo lugar, no linguajar Galaico-português das gentes da altura, a partir de uma determinada característica, veio a influenciar a sua denominação e posterior transmissão aos moradores, povoadores ou proprietários.
Em França encontra-se igualmente a localidade denominada por Malvières, no departamento de Haute-Loire, no centro-sul da França. Segundo Mario Rossi, o termo Malvières provém de Malva.
Mauvières (Ruisseau des) Varenne-PArconce Même origine que Malvières en Haute Loire. Tous les auteurs sont d'accord pour voir dans Mauvières des lieux où poussent les mauves. Jadis les paysans cueillaient les mauves qu'ils consommaient en guise d'épinards.[12]
[1] Amândio Quinto. Coisas velhas de velhos tempos. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2002.
[2] Algumas noticias para a descripção historica dos logares de Alcainça, Malveira e Carrasqueira do concelho de Mafra / coord. José Joaquim d'Ascensão Valdez, (1842-1926). - Lisboa: Typ. do Jornal O Dia, 1895. - 115, [2] p. ; 24 cm. - Transcrição de documentos do ANTT. - Capelas da Coroa; Livro 1 da Estremadura; Chancelaria de D. Dinis; Chancelaria de D. Pedro I. P. 5.
[3] Idem, p. 19.
[4] www.uf-malveira-alcainca.pt/cidadao/historia/malveira
[5] Origens das regiões na obra de Valdêz (século 18) P. 25/26.
[6] Idem, p. 104.
[7] Idem, Ibidem.
[8] Idem, p. 26
[9] Idem, p. 307.
[10] Mª Teresa C. Moure Pena. Revisión Histórico-Documental en torno al antigo monasterio Benedictino de San Esteban de Chouzán. Boletín do Museo Provincial de Lugo, Nº. 12, 2, 2005, págs. 125-170.
[11] Archivo de San Paio de Ante-Altares. Sección pergaminos. San Esteban de Chouzán. Cajón 3-Mazo 1 A-B-C. In: Mª Teresa C. Moure Pena. Revisión Histórico-Documental en torno al antigo monasterio Benedictino de San Esteban de Chouzán. Boletín do Museo Provincial de Lugo, Nº. 12, 2, 2005, pág. 155.
[12] Mario Rossi. Les Noms de lieux du Brionnais-Charolais témoins de l'histoire du peuplement et du paysage; Bourgogne du Sud. 2009 - Brionnais (France). P. 407. (Mauvières (Ruisseau des) Varenne-PArconce. Mesma origem que Malvières em Haute Loire. Todos os autores concordam em ver em Mauvières os lugares onde as malvas crescem. No passado, os camponeses colhiam malvas que consumiam como espinafre.)