Pela guerra civil Portuguesa que opôs Liberais e absolutistas.
Mapa do trajecto das forças Liberais comandadas pelo Duque de Terceira, Garvão em 15 e 16 de Julho de 1833.
(In História de Portugal, volume III, de A.H. de Oliveira Marques).
Com a promulgação a Carta Constitucional em 1826, não tardou em o conde de Vila Flor, (mais tarde Duque de Terceira), nomeado governador das armas da província do Alentejo, a ver-se obrigado a reprimir algumas insurreições militares que se levantaram no Alentejo a favor do absolutismo, o mesmo se passava no Algarve onde as guarnições militares se agitavam no mesmo sentido.
Com o regresso de D. Miguel a Portugal em Fevereiro de 1828, D. Miguel jura novamente a Carta Constitucional. Porém, depressa, trai o compromisso assumido com os liberais, dissolve as Câmaras e convoca as cortes à maneira antiga onde é proclamado, pelos três estados do reino, rei absoluto.
A reação liberal e anti-miguelista depressa é abafada, com a fuga de milhares de liberais para o estrangeiro e os que ficam são alvo do terror miguelista; muitas são sumariamente executadas outras são presas ou degredadas.
Estando o governo e o país na posse dos Miguelistas, restava aos liberais os Açores, que Vila Flor, tinha vindo paulatinamente a conquistar e a cidade do Porto, cercado e sobre forte pressão das forças absolutistas.
A 8 de Novembro de 1832, D, Pedro promoveu o Conde de Vila Flor a Duque da Terceira.
As forças liberais sentiam-se impotentes para romper o cerco à cidade do Porto. Para desbloquear este impasse propôs-se uma expedição ao Algarve, sendo escolhido para seu comandante o agora Duque da Terceira. A expedição saiu do Porto a 21 de junho de 1833 e a 24 desembarcava numa praia entre Cacela e Monte Gordo.
Enquanto as forças Miguelistas, comandadas pelo General Molelos, corriam para defender a cidade de Beja, julgando este ser este o objectivo do Duque de Terceira antes de se dirigir para a conquista de Lisboa, marchava o Duque da Terceira, a 13 de julho, animado pela recente vitória naval do Cabo de S. Vicente, de S. Bartolomeu de Messines para S. Marcos da Serra, a 14 saía dos limites do Algarve e entrava no Alentejo, chegava dia 15 de Julho de 1833, a Garvão, onde descansou e no dia 17 estava em Messejana.
O Caminho seguido pelo exército liberal terá seguido pela antiga Estrada Real do Algarve, um dos caminhos mais rápidos para chegar a Lisboa, sobre a estadia em Garvão, ainda nos anos sessenta do século passado se falava na presença de militares na Quinta da Estação de Garvão.
Segundo os relatos oficias das movimentações militares:
No campo de Gravão [Garvão] me foi confirmada a noticia dos acontecimentos de Béja, sabendo que o Visconde de Mollelos instruido em Messejana da revolta daquella Cidade contra o governo intruso, e da pequena força que alli se achava, marchára sobre Beja, que a referida pequena força evacuou á primeira noticia da sua marcha , e occupava aquella Cidade, onde as suas tropas tinhão cometido os maiores horrores, e onde se lhe devião unir alguns reforços avultados. [1]
No mesmo dia 3 de Julho vim no conhecimento de que o General Mollelos se tinha retirado por S. Martinho das Amoreiras até Gravão, onde convergem as estradas, que vem do Algarve por Almodovar e Ourique, e por Santa Clara, a ultima das quaes o inimigo tinha devastado na sua passagem com huma barbaridade verdadeiramente atroz. [2]
No dia 7 de Julho, estando efectivamente prompta a maior parte dos meus meios, e dispondo-me eu definitivamente a penetrar no Além-Téjo pela estrada de Almodovar por me constar que o inimigo tinha as suas forças em Messejana, Gravão e Castro Verde, recebi a noticia da completa derrota, e captura da Esquadra rebelde pela Esquadra de Sua Magestade.[3]
No dia 13 marchei de S. Bartholomeu sobre S. Marcos, em 14 estabeleci o Campo junto a Santa Clara, o em 15 junto a Gravão, onde fez alto a Divisão por todo o dia 16 para reunir a artilheria de Campanha e os foguetes que vinhão huma marcha na retaguarda.[4]
Marchámos sobre Garvão, sem encontrar o inimigo, porque nos não esperava em posição alguma. Alli cahiram doentes muitos soldados e officiaes, entre estes meu cunhado D. Manuel da Camara, com umas sezões terríveis que davam grande cuidado ao facultativo. O General mandou-o conduzir para Odemira por uma guerrilha, com grande risco de ser aprisionado.
Continuámos a marcha sobre Messejana e chegámos alli de tarde, encontrando uma força inimiga que estava em observação do nosso movimento.[5]
[1] In: Resumo Official das Operações da Expedição as Ordens do Excellentissimo Duque da Terceira, desde o seu desembarque no Algarve, até á sua definitiva entrada em Lisboa
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem.
[5] In: Memórias: Expedição do Algarve, Junho e Julho de 1833 (capitão Marquês de Fronteira)