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Jul 20

Dias da semana

 

                Porque é que Portugal é o único país da Europa Ocidental a nomear os dias da semana, (do latim, septimana, "sete dias"), pela terminologia eclesiástica católica, (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), e não pelos nomes latinos pagãos, (Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies), como se observa nos restantes países?

                Em mais nenhum país católico do Oeste Europeu, se observa tal, tanto a Espanha, como a França, como a Itália e até mesmo o próprio Vaticano, continuam a nomear os dias da semana pelos antigos nomes pré-cristãos.

 

                Lunes, Martes, Miércoles, Jueves, Viernes, Sábado e Domingo, em espanhol.

                Lundi, Mardi, Mercredi, Jeudi, Vendredi, Samedi e Dimanche, em francês.

                Lunedi, Martedì, Mercoledì, Giovedì, Venerdì, Sabato e Domenica, em italiano.

                Luni, Marţi, Miercuri, Joi, Vineri, Sambata e Duminica, em romeno.

 

                O que de uma forma geral denomina: dia da Lua, dia de Marte, (deus da guerra romano), dia de Mercúrio, (deus na mitologia romana), dia de Júpiter, (deus na mitologia romana), dia de Vénus, (deusa do amor), dia de Saturno, (culto pagão do deus da agricultura) e dia do deus sol, depois transformado em dia do senhor, dominus dei.

                O mesmo se passa nos restantes países europeus, de expressão Anglo-saxónica e religião protestante ou Anglicana.

 

                Montag, Dienstag, Mittwoch, Donnerstag, Freitag, Samstag e Sonntag, na Alemanha.

                 Que significam, dia da Lua, dia de Tyr, (deus da guerra), dia do meio da semana, dia de Thor, (deus do trovão), dia de freya, (deusa da fertilidade), dia de Saturno e dia do Sol.

 

                Em inglês: Monday, Tuesday, Wednesday, Thursday, Friday, Saturday e Sunday.

                Cujo significado não difere muito dos dias de semana alemão, dia da Lua, dia de Tyw, (deus da guerra), dia de Odin, (divindade Anglo-saxônica), dia de Thor, (deus do trovão), dia de freya, (deusa da fertilidade), dia de Saturno e dia do Sol.

 

                No mundo Galaico-português, na Galiza continua-se a nomear os dias da semana segundo o panteão pagão, Luns, Martes, Mércores, Xoves, Vernes, Sábado e Domingo, e em português antigo, nomeava-se por: Lues, Martes, Mércores, Joves, Vernes, Saturnai e Solis, correspondente à actual, Segunda, Terça, Quarta, Quinta e Sexta-feira, Sábado e domingo.

 

                Portugal foi assim o único país do mundo que adotou os dias da semana derivados do latim eclesiástico. Os nomes antigos dos dias da semana, nomeados por outros povos, não foram mantidos na língua portuguesa, tal mudança deveu-se a São Martinho de Dume, nomeado Bispo de Braga em 596, fervoroso anti pagão e a todos os costumes associados ao paganismo, adoptou nas igrejas sob jurisdição da Sé de Braga, os dias da semana segundo a nomenclatura eclesiástica católica, tradição que se manteve até ao século XV, quando foram definitivamente adoptados no resto do reino.  .  

 

«Os cultos astrais – recorda oportunamente Aires Nascimento – haviam sido particularmente visados nas condenações dos priscilianistas, nomeadamente no I Concílio de Braga. E em diversos testemunhos, ao lado do culto do Sol e da Lua, ou das estrelas, aparece documentada a existência do culto ao fogo e às águas».

Em finais do séc. VI, também o II concílio de Braga (572), celebrado sob a presidência de Martinho de Dume (510-580), metropolita daquela zona, faz referência à observação e culto tradicional que os gentios faziam dos elementos naturais, do curso da lua, das estrelas e dos signos antes de iniciarem a construção de uma casa, fazerem a sementeira, plantarem árvores ou contraírem matrimónio (c. 72).

Na obra De correctione rusticorum, que o mesmo Martinho endereça a Polémio, bispo de Astorga, repreendem-se os camponeses por acenderem velas junto às pedras, às árvores, às fontes e às encruzilhadas (nam ad petras, et arbores, ad fontes, et per trivia cereolum incendere) e realizarem oferendas em festividades como as calendas ou os deuses domésticos, além de se condenar a idolatria, a adivinhação ou os augúrios e a bruxaria e instar os cristãos a deixar de designar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos (Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies) para passar a designá-los pela terminologia eclesiástica (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies).*

 

 

* Aires A. Nascimento, «A “Religião dos Rústicos”», art. cit., p. 326. In: Luís Mata, O «cais» de Santa Iria uma reflexão sobre uma velha questão, REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano VI, 2007 / n. 11 – 277.

publicado por José Pereira Malveiro às 22:19

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