“O famigerado heroi do Crime Grande da Estação do Rocio”
VALE de SANTIAGO
José Júlio da Costa, Herói ou Carrasco.
Parte 6 (de 12)
A greve geral de 18 de Novembro de 1918, apesar de não ter a afluência expectada no país em geral, teve uma grande aceitação no Vale de Santiago, freguesia do concelho de Odemira, onde a população demonstrava alguma consciencialização politica e não era estranha à implantação do regime comunista na Rússia em Outubro de 1918.
A greve geral não teve a adesão no resto do país como se observou no Vale de Santiago, de facto a fraca adesão dos trabalhadores de sectores vitais da economia nacional condenou os trabalhadores rurais do Vale de Santiago ao isolamento e consequentemente à derrota final, apesar de se entrincheiram-se no ponto mais alto da vila e tentarem uma brava resistência, enquanto não chegavam os tão esperados reforços, duma revolução triunfante, esta afinal não se concretizou.
Enquanto um grupo de cerca de sessenta trabalhadores, “não só daquela freguesia mas também de outras vizinhas”, procurou fazer frente e resistiu durante quatro dias ao assalto das forças da GNR e às milícias civis dos proprietários rurais no Cerro Alto, outros foram perseguidos e presos na própria vila pelos militares que fecharam inclusivamente as instalações da Associação dos Trabalhadores Rurais
Nestes acontecimentos finais do Vale de Santiago interveio José Júlio da Costa, primeiro como guia das forças militares que se dirigiam ao vale de Santiago e posteriormente como conciliador a pedido das autoridades, pois de facto era o único civil que acompanhou os militares na fase inicial.
Por um lado logrou convencer os revoltosos a renderem-se com a promessa das autoridades de que não seriam molestados, promessa essa que não veio a ser cumprida, por outro lado e segundo relatos da época, José Júlio da Costa seria um dos mais encarniçados na perseguição aos trabalhadores revoltosos, tanto como guia da força militar na direcção do Vale de Santiago, como na sua perseguição juntamente com milícias organizadas pelos proprietários, posteriormente à sua rendição.
Este comportamento terá contribuído fortemente para a sua convicção em abater Sidónio Pais, José Júlio da Costa era um homem dividido, por um lado fazia parte daqueles republicanos que inicialmente apoiaram o Governo de Sidónio Pais, tal como os seus heróis Machado Santos e Carlos da Maia e que posteriormente viriam a ficar desiludidos com as suas políticas, igualmente laços familiares prendiam-no aos lavradores ricos da região, pois José Júlio da Costa era primo de António Eduardo Júlio, o proprietário do celeiro arrombado pelos trabalhadores rurais do Vale de Santiago.
In: José Pereira Malveiro, José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio, Garvão, 2018.