CENTENÁRIO
“O famigerado heroi do Crime Grande da Estação do Rocio”
SIDÓNIO PAIS
Parte 5 (de 12)
O período que vai desde a implantação da República até ao golpe de Sidónio, é caracterizado por uma grande instabilidade politica, só entre 1910 e 1916 Portugal teve quarenta e cinco governos, demonstrativo da profunda divisão politica que reinava entre as diversas forças partidárias portuguesas.
As várias fracções republicanas lutando pela hegemonia politica: os monárquicos e a maioria do clero pela restauração da monarquia e os anarco-sindicalistas e outros movimentos libertários pujando pela revolução social, levou à saturação do povo português e marcou um sucessivo apelo à salvação nacional, propicio ao aparecimento de líderes carismáticos, particularmente mistificados, embutidos de uma providência divina que surgem, aos olhos de um povo analfabeto, supersticioso e refém da propaganda clerical, como salvadores da Pátria.
De facto são constantes os apelos na imprensa portuguesa «a um salvador da Pátria». Machado Santos, o herói da República, protagoniza uma série de tentativas subversivas com o intuito de derrubar o governo dos democráticos de Afonso Costa e implantar um governo de salvação nacional.
Pela madrugada de cinco de Dezembro de 1917, Sidónio Pais e Machado Santos, à frente de uma junta revolucionária, chefiam um movimento militar contra o esforço nacional na participação na Grande Guerra Mundial que estava a provocar a falta de alimentos no país e a um aumento generalizado dos custos nos alimentos disponíveis.
Sidónio Pais congrega assim à sua volta, não só os apoiantes dum governo que se queria de salvação nacional, mas um vasto leque de descontentes com o governo que o precedeu, de facto com Afonso Costa preso, Bernardino Machado, o presidente da República, expulso do país, estava aberto o caminho para Sidónio Pais implementar as suas políticas no meio de uma enorme expectativa.
José júlio da Costa ao matar Sidónio Pais, não eliminou somente o presidente da República, um major ou um lente da Universidade de Coimbra, eliminou igualmente a génese do regime ditatorial, característico dos governos autoritários que se seguiram não só em Portugal mas igualmente noutros países, legitimado pelo caos político da República, já ensaiado anteriormente em 1915 com a ditadura de Pimenta de Castro e posteriormente com a instauração do Estado Novo, na consequência do golpe de 28 de Maio de 1926 que eventualmente conduzirá Salazar ao governo.
“O génio político de Sidónio, que o transforma num precursor e num pioneiro numa escala global, foi ter encontrado a fórmula que muitos outros aplicariam com infinitas variantes nas décadas vindouras – e essa foi a causa da sua grandeza e da sua tragédia.”[1]
[1] Jorge Almeida Fernandes, Sidónio Pais e os sete pilares do futuro. Jornal Público, 09/09/2010.
In: José Pereira Malveiro, José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio, Garvão, 2018.