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Set 16

INFELIZMENTE ...!

Já lá vão 22 anos que o Jornal de Garvão denunciava nesse seu primeiro número a degradação e a falta de protecção do Património de Garvão, mas principalmente a falta de sensibilidade dos eleitos locais para, de facto, a sua recuperação e rentabilização em termos de locais visitáveis e criação de postos de emprego.
Mas sejamos realistas, a história, a arqueologia e o património em geral não resolvem todos os problemas da vila, mas poderão, à sua maneira, contribuir para colmatar certas mazelas que afligem estas comunidades de fraca ou nenhuma visibilidade.
A criação de um, dois, ou três postos de trabalho irá, sem dúvida, contribuir para um crescimento sustentado da vila de Garvão.
É preciso é uma ideia, um sentido, um projecto de desenvolvimento local e, … não há.
O que se assiste é o aproveitamento mediático pelos responsáveis políticos locais dum património que devia de estar num museu local para o desenvolvimento da própria vila, como o caso das cerâmicas do Deposito Votivo de Garvão, e está na cave do Cineteatro em Ourique.
Não se assiste á dinamização desse espólio para a criação de postos de trabalho na vila de Garvão.
Não se assiste a uma continuação da pesquisa arqueológica nesse mesmo Depósito Votivo.
Pelo contrário assiste-se à degradação, á incúria e ao desmazelo.
E isto é sintomático com o resto do património em geral.
O Cerro do Castelo tem sido charruado, o acesso terraplanado e cabras têm derrubado o que resta dos muros protectores.
Agora temos cabras junto ao conjunto Cemitério Velho/Igreja do Espírito Santo/Ossário, não tarda muito que as próprias paredes do Cemitério Velho comecem a ficar degradadas e a desborralhar com o pisoteio e o peso das próprias cabras e o próprio cemitério convertido num curral como já em tempos o foi.

JORNAL DE GARVÃO Nº 0

GARVÃO, RIQUEZA ARQUEOLÓGICA POR DESVENDAR
Garvão, na sua área geográfica, tem, sem dúvida, uma enorme riqueza arqueológica a desvendar. Na área da sua actual freguesia ou na área do extinto Concelho de Garvão, a abundância de vestígios e ruínas é reconhecidamente notória, e só a falta de verbas, não tem permitido a continuação das pesquisas até agora efectuadas.
Nunca foi feito um apanhado geral dos vestígios existentes e visíveis à superfície, e posteriormente desenvolver esse trabalho no terreno por meio de um programa de pesquisa e exploração, desenvolvendo assim uma actividade de valorização da própria vila de que a população se orgulharia e apoiaria, permitindo assim um afluxo superior de visitantes e turistas que incrementaria, sem sombras de dúvidas, a economia da região.
O que tem sido feito até agora tem sido um trabalho de catalogação e salvaguarda daquilo que por um motivo ou por outro urge salvar de momento, postos a descoberto geralmente por máquinas efectuando trabalhos de terraplanagem ou abertura de valas, partindo e destruindo enormes quantidades de riquezas históricas e arquelógicas, que nunca mais serão aproveitadas, com enorme prejuízo, não só material mas também de investigação para o melhor entendimento daquilo que é a nossa herança histórica.

DEPÓSITO VOTIVO DE GARVÃO “DESCOBERTO” POR MÁQUINA DA CÂMARA
É o caso nomeadamente do DEPÓSITO SEGUNDÁRIO DO SANTUÁRIO DE GARVÃO da II idade do ferro, ou mais correntemente chamado depósito votivo de Garvão, o qual teve de ser urgentemente “socorrido” pelos serviços de arqueologia oficiais, depois de uma máquina escavadora, quando procedia à abertura de uma vala para o saneamento básico na vila, ter posto a descoberto uma enorme quantidade de telharia e cacos fora do que é normal se encontrar naquela zona, apesar desta mesma zona ser fértil em ossadas e vestígios cerâmicos, telhas e outros cacos, inclusivé terra sigilata. Alertados os serviços oficiais de arqueologia, de imediato procederam ao seu estudo e exploração pondo a descoberto um importante depósito de oferendas a qualquer divindade, estando ainda por descobrir o santuário propriamente dito.

POTES, HABITAÇÕES E ESTELAS FUNERÁRIAS “TERRAPLANADAS”
É o caso também, daquilo que chamamos de conjunto do cemitério velho, árabe/medieval, o qual requereu a intervenção de Arqueólogos a título de urgência devido a uma máquina da Câmara ter posto a descoberto vestígios de habitações e enormes potes de cerâmica já parcialmente destruídos pela dita máquina, mais ou menos à frente da igreja matriz de Garvão.
Junto ao cemitério velho, na parte exterior, também a dita máquina pôs a descoberto algumas estelas funerárias que se presumem medievais, presentemente em exposição, entre outras peças, na Sede da Associação Cultural e Defesa do Património. Algumas dessas estelas foram recolhidas que procedia aos trabalhos em curso. Outras foram recolhidas por elementos da dita Associação numa visita ao local.

OS VESTÍGIOS ROMANOS DOS FRANCISCOS “MUDAM” ESTRADA
Também nos Franciscos, propriedade do Arzil, local de enorme concentração de ruínas romanas, que Caetano Beirão e José Olívio Caeiro procederam a escavações de emergência, numa área que iria ser afectada pela construção de uma estrada entre Garvão e Aldeia das Amoreiras, pondo a descoberto restos de paredes numa área bastante extensa tratando-se ou de uma vila rústica romana de enormes proporções ou, mais concretamente, de uma cidade dita romana, forçando assim a que a dita estrada viesse a ser construída noutro local.
Nas ditas escavações foi posto a descoberto também enorme quantidade de cerâmica o que não é de estranhar pois esta encontra-se em grandes quantidades na dita propriedade, assim como ainda vestígios de muros romanos que estão sujeitos ao seu desaparecimento motivado pelas modernas práticas cerealíferas. De notar ainda que desta propriedade e desta mesma zona foi trazida enorme quantidade de pedras para encher os caboucos do prédio situado entre o Largo da Palmeira e o Largo da Amoreira, que nessa altura estava em construção, nas quais se encontrava uma pedra que os pedreiros, achando diferente e com umas letras gravadas, a pouparam, tratando-se de uma ESTELA ROMANA de enorme importância que Mário e Rosa Varela Gomes estudaram e devidamente divulgaram, encontrando-se a estela em exposição na dita sede da Associação Cultural e Defesa do Património.

TORNA-SE URGENTE...
Constata-se assim que todos os trabalhos arqueológicos desenvolvidos em Garvão são de carácter urgente e de emergência devido ou a obras projectadas em locais de reconhecido interesse, ou porque alguma máquina pôs a descoberto, partindo e perdendo-se uma boa parte do espólio que justifica, sendo Garvão local de reconhecido interesse arqueológico, um levantamento geral dos seus vestígios que se torna urgente salvaguardar e evitar futuras destruições, como as acima mencionadas.

 

publicado por José Pereira às 22:01

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