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Nov 17

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INTRODUÇÃO

          Este estudo baseia-se nos recenseamentos gerais da população portuguesa publicados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística.

          O primeiro Recenseamento Geral da População Portuguesa, a reger-se pelas orientações internacionais do Congresso Internacional de Estatística de Bruxelas de 1853, realizou-se em 1864.

          Ainda no século XIX tinham sido realizados os censos de 1801 conhecido pelo recenseamento do Conde Linhares no reinado de D. João VI e os recenseamentos gerais de 1835 e 1851.

          Os censos realizados anteriormente não contam para o presente estudo nomeadamente o Rol de Besteiros do Conto, de D. Afonso III (1260-1279); o Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, de D. João III (1527); a Resenha de Gente de Guerra, de D. Filipe III (1639); a Lista dos Fogos e Almas que há nas Terras de Portugal, de D. João V (1732), também conhecida por Censo do Marquês de Abrantes e o Numeramento de Pina Manique, de D. Maria I (1798).

POPULAÇÃO

          Ao observar-mos a evolução populacional da povoação de Garvão desde 1801, não podemos deixar de notar, no gráfico apresentado, uma curva ascendente a partir desse ano, cujo pico se situa nas décadas de 30 e 40 do século passado, (censos de 1940 e 1950), e descendente que culmina com a mesma população que tinha há cento e dez anos.

          Recorrendo unicamente ao período dos censos disponibilizados pelo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), (deixando o efectivo populacional da povoação de Garvão nos períodos antecedentes para outra altura), facilmente se chegará às seguintes conclusões:
          - O ganho populacional que se observou até às décadas de 1940 esbateu-se nos sessenta anos seguintes.
          - Os anos em que se observa um aumento populacional significativo coincidem precisamente com o incremento da cultura cerealífera no Alentejo. Se grande parte da população permaneceu agarrada ao trabalho manual nos campos e se nas décadas anteriores ao milagre do trigo, estas eram as responsáveis pelo reduzido número de habitantes, já a partir do momento em que se observou uma maior produção cerealífera – mais trabalho e melhor alimentação – também se observou um aumento populacional, tendo Garvão pela primeira vez, desde que existem registos populacionais, registado um aumento superior aos dois mil habitantes, 2.282 habitantes respeitantes à década de 1940, segundo o censo de 1950 e 2.207 habitantes respeitantes à década de 1930, segundo o censo de 1940.
          A este aumento populacional não deixa de estar relacionado a implantação da pequena industria local como a alta e baixa moagem, a fábrica dos pirolitos, fábrica do tratamento primário da cortiça, e os lagares de vinho e azeite, incrementando igualmente o comércio local, altura em que Garvão presenciou de facto um crescimento significativo, recordado saudosamente pelas gerações que a presenciaram.
          - Contrapondo esta curva descendente da população de Garvão, que se vinha a observar desde 1950, registou-se de facto um ligeiro aumento na década de 1970, (censo de 1981), obviamente aqui não deixa de ter alguma influência o regresso dos imigrantes e dos retornados das ex-colónias portuguesas em África.
          - Igualmente, na década de 1910, (censo de 1920), o crescimento populacional que se vinha a observar, parece não ter sido afectado, nem pela implantação da república em 1910, nem pela grande guerra (1914/1918), nem pela pneumónica de 1918/1919.
          De facto o aumento registado durante a década de 1910, (censo de 1920) de 34,23% era perfeitamente suficiente para anular qualquer efeito que o total de cerca de 60.000 vítimas nacionais (cerca de 1,08% da população) causado pela pneumónica (ou gripe espanhola) pudesse causar no crescimento da população de Garvão.
          Não se pode deixar de notar que embora o mortífero vírus da gripe atingiu igualmente as populações rurais estas apresentavam uma mais forte resistência ao vírus da gripe, de facto as populações rurais coabitando mais frequentemente com os animais domesticados desenvolvem mais facilmente defesas imunitárias a estes agentes patogénicos. (A varíola, a varicela e o sarampo, levados pelos conquistadores espanhóis, causaram mais mortes aos ameríndios centro e sul americanos, cerca de 90% da população, do que propriamente as armas de Cortés e Pizarro, precisamente por falta de domesticação de animais e do respectivo contacto).
          - O acentuado decréscimo populacional que se observa a partir de 1950 (censo de 1960) até aos nossos dias, uma baixa taxa de natalidade e uma alta taxa de mortalidade devido ao envelhecimento da população, com a pequena ressalva ocorrida na década de 1970 com o regresso dos retornados, não deixa de estar relacionada com a crescente mecanização agrícola, com a emigração tanto de operários, primeiro para a CP e para a cintura industrial das grandes cidades e depois para o estrangeiro, o não regresso dos soldados que conhecedores de outras realidades desprezaram os campos, das criadas de servir, verdadeiros elos na propagação dos hábitos citadinos para o campo.
          Não se pode descurar igualmente as alterações sócio-culturais que se observaram na população portuguesa, nomeadamente a propagação dos meios de comunicação, nomeadamente a televisão, um maior número de mulheres no mercado de trabalho assim como fundamentalmente a utilização de meios contraceptivos.
          A fraca pluviosidade e a praticamente inexistente mobilização da terra contribuíram igualmente para o cenário actual, já Mário Nunes Vacas na sua tese de licenciatura em 1938 conclui que a diminuta densidade populacional no Alentejo se deve tanto à fraca pluviosidade como à irregularidade desta, comparando inclusivamente com outras regiões do país onde um maior recurso hídrico se associa a uma maior densidade populacional. Aponta igualmente que a concentração de grandes latifúndios nas mãos de poucos, obsta a que muitos milhares de braços procurem na emigração a fuga a uma mera subsistência.

CONCLUSÃO
          Prova-nos assim a história que em situações económicas desfavoráveis e em condições adversas, não seriam propícias a um aumento populacional elevado e sustentado: pois os recursos alimentícios disponíveis às populações seriam reduzidos e consequentemente as taxas de reprodução populacional seriam menores; as taxas de mortalidade seriam elevadas; e mesmo a própria mobilidade das populações (em busca de melhores condições alimentares) estaria condicionada.
          Também nos prova que em situações económicas favoráveis assiste-se a um aumento populacional. Obviamente que as condições propícias a esse aumento nos meados do século XX, com o chamado milagre do trigo, não são reproduzíveis na actualidade, portanto preconizar uma revitalização económica-populacional, baseada num exemplo positivo do passado, não só é inexequível como inviável, os tempos são outros, a dependência da mão-de-obra na agricultura, devido à maquinização, é reduzida quando comparada com as décadas anteriores.
          Os tempos actuais oferecem outras oportunidades, tanto de sobrevivência individual como colectiva, passa sem dúvida pelo conhecimento, pela educação, pela abertura ao mundo exterior, pelo exemplo do que se passa noutros lugares, sejam elas positivas como exemplo a seguir ou sejam elas negativas como praticas a evitar.

2011 - 730 Habitantes menos 121 quebra de 14,21%
2001 - 851 Habitantes menos 87 quebra de 9,27%
1991 - 938 Habitantes menos 275 quebra de 22,67%
1981 - 1213 Habitantes mais 36 aumento de 3,08%
1970 - 1167 Habitantes menos 764 quebra de 41,95%
1960 - 1821 Habitantes menos 461 quebra de 20,20%
1950 - 2282 Habitantes mais 75 aumento de 3,39%
1940 - 2207 Habitantes mais 419 aumento de 23,43%
1930 - 1788 Habitantes mais 502 aumento de 28,07%
1920 - 1286 Habitantes mais 328 aumento de 34,23%
1911 - 958 Habitantes mais 230 aumento de 31,59%
1900 - 728 Habitantes mais 49 aumento de 7,21%
1890 - 679 Habitantes mais 168 aumento de 30,49€
1878 -551 Habitantes mais 32 aumento de 6,16%
1864 - 519 Habitantes mais 32 aumento de
1849 - 415 Habitantes mais 65 aumento de
1801 -350 Habitantes

publicado por José Pereira Malveiro às 22:07

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