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Apreciação do vice-presidente do Concelho Superior de Obras Públicas e Minas, em 1915, sobre as propostas de localização da estação de entroncamento da linha do Vale do Sado com a linha do Sul - Garvão ou Funcheira.

 

              Este artigo tem como base um trabalho realizado no âmbito da disciplina de Arqueologia Industrial da licenciatura de Arqueologia por mim frequentado e pelas minhas colegas Patrícia Monteiro e Inês Estevão que em conjunto realizamos a investigação sobre o complexo da Funcheira. Contamos com o apoio do senhor José Luís Mendes como fonte oral e antigo funcionário do complexo ferroviário da Funcheira sendo assim uma excelente fonte para perceber o contexto de funcionamento do complexo ferroviário da Funcheira e também agradecer o apoio e disponibilidade dos arquivos da REFER.

            Com o decorrer da investigação nos arquivos da REFER, deparamo-nos com milhares de caixas com documentos de todo o tipo a nível nacional, principalmente documentos relacionados com obras e aquisição de máquinas de apoio ferroviário.

            Com a exaustiva procura no meio de milhares caixas, deparamo-nos com uma apreciação do vice-presidente do Concelho Superior de Obras Públicas e Minas sobre as propostas de localização da estação de entroncamento da linha do Vale do Sado com a linha do Sul, onde se discute a implantação de uma nova estação. Este documento é datado de 16 de Março de 1915.

                Como já referi, um dos poucos documentos que encontrámos nos Arquivos Ferroviários da REFER sobre a Funcheira foi uma apreciação do Concelho Superior das Obras Públicas e Minas que apresentou ao Concelho de Administração dos Caminhos-de-ferro do Estado o projecto datado de 21 de Janeiro 1915, da estação de entroncamento da linha do Vale do Sado com a linha do Sul, elaborado pelo Serviço de Construção da Direcção dos Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste.

Desta apreciação foram estudadas quatro soluções.

            Nas duas primeiras é aproveitada a actual estação de Garvão, ampliando-a.

            Na terceira é colocada a nova estação no ponto de entroncamento, no quilómetro 219,500 da linha do Sul, que corresponde a recta onde está a actual estação da Funcheira.

            Na quarta estabelece-se a estação mais além daquele ponto, ao quilómetro 218.440.20, ao meio de uma recta de 700 metros de extensão, colocada em patamar, que pensamos que seja a zona da rotunda ou do antigo campo de futebol do Funcheirense.

 

            Conforme a memória descritiva do Serviço de Construção, “e com essa opinião o Concelho se conforma”, a estação de Garvão não foi susceptível de ampliação conveniente para garantir as condições de circulação exigidas pelo aumento de tráfego “que há a esperar, em futuro não muito remoto, da exploração que, vai começar na zona servida pela linha do Valle do Sado e do desenvolvimento sucessivo da província do Algarve, tanto pelo que respeita á sua agricultura como á industria de conservas.”

            Este Concelho pôs de parte as duas primeiras soluções, tanto mais que os seus orçamentos eram exagerados.

            As duas últimas soluções, “enquanto às suas condições técnicas, satisfazem bem, e, pode dizer-se, por igual.”

            A apreciação deste Concelho Superior das Obras Públicas e Minas tendeu a favor da terceira, concluiu que a “estação fica mais bem disposta para distribuição do tráfego, visto que é necessário para o serviço local conservar a actual estação de Garvão, e o seu orçamento é um pouco mais reduzido.

            Julgou este Conselho, conformando-se com a opinião do Serviço de Construção e com a Direcção, que é esta a solução mais conveniente.”

 

            Aqui fica a apreciação que no qual teve início a construção do complexo da Funcheira, outrora uma estação muito importante de transbordo, completando a ligação entre a linha do Sul com a linha do Algarve, sendo que se tornava uma paragem obrigatória para quem quisesse fazer este percurso, desempenhando assim o papel inicial de protagonista na bifurcação destas duas linhas ferroviárias, mais tarde com a linha do Sado.

               Noutros tempos, onde a tecnologia que dispomos não era a mesma, o complexo ferroviário da Funcheira albergava centenas de ferroviários, que vê a sua decadência nos finais dos anos 90 até à sua electrificação já no séc. XXI que pós fim a necessidade de ter ali trabalhadores para a sua manutenção. Assim assiste-se hoje a uma paisagem ferroviária abandonada por força do tempo e da globalização, ficando nas nossas memórias as recordações e edificações do seu espaço.

 

José Daniel Malveiro

 

publicado por José Pereira às 21:59

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