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Confraria do Santíssimo Sacramento de Mafra.jpgcustodia.jpg

Emblema da Confraria do Santíssimo Sacramento de Mafra e Custódia da Igreja.

 

            Num documento relacionado com os Fundos pertencentes ao Arquivo da Câmara Municipal de Beja, consta na segunda página a menção à Confraria do Santíssimo Sacramento de Garvão, 1819/1846.

            Conjuntamente com a Irmandade do Sagrado Espírito Santo, a Santa Casa da Misericórdia de Garvão e a Confraria das Almas, (mencionada no livro Herança Histórica, p. 82) e o conhecimento, agora, desta Confraria do Santíssimo Sacramento, vem contribuir para o conhecimento das vivências, pelo menos em termos caritativos, da população do extinto concelho de Garvão. 

            As confrarias sob a invocação do Santíssimo Sacramento, tal como as do Rosário e das Almas, foram impulsionadas após a realização do Concílio de Trento. Independentemente da invocação das confrarias, um dos principais interesses da atuação das mesmas, a par da ajuda à pobreza e do acompanhamento dos mortos, foi a reforma dos costumes através de propostas de modos de vida de acordo com as decisões conciliares, o que favoreceu a paz vicinal. Isto é, as confrarias contaram-se entre os mecanismos de disciplinamento social incrementados após o Concílio.

            No caso das confrarias do Santíssimo Sacramento, constituíram uma tentativa de resposta à crise teológica levantada pela reforma protestante quando os mesmos negaram a presença de Deus na eucaristia. Teria sido o modelo da arquiconfraria instituída no convento dominicano de Santa Maria Sopra Minerva (Roma), aprovada por Paulo III, em 1539, a repercutir-se pela Cristandade.

            Visando em especial a solenização do culto, essas instituições investiram muito particularmente nas celebrações litúrgicas ligadas aos mistérios de Cristo, tornando-se o ciclo da Páscoa o mais relevante. No entanto, algumas dessas irmandades foram criadas anteriormente ou em data muito próxima desses eventos, o que demonstra a não influência dessa realidade.

            Em Portugal as confrarias estão documentadas desde a Idade Média, remontando as origens a épocas anteriores. Eram associações leigas, embora pudessem contar com clérigos. A Igreja rapidamente as controlou, enquadrando-as nas paróquias e mosteiros, embora só fossem fiscalizadas pelos bispos no plano espiritual.

            A entrada dos confrades era voluntária, pública e celebrada por meio do juramento do compromisso — isto é, das normas ou estatutos pelos quais era regida —, o que implicava a inscrição no livro dos confrades e o pagamento de uma joia anual. Em princípio, essas agremiações estavam abertas a todos. Porém, o pagamento da quota anual implicava, desde logo, a exclusão dos mais carenciados.

            Constituíram um importante espaço de sociabilidade — na Época Medieval, ligada inclusivamente ao banquete, por ocasião da festa do orago, prática que posteriormente caiu em desuso com exceção das confrarias do Espírito Santo —, asseguraram as cerimônias fúnebres dos confrades e instituíram um meio de evidenciar integração e prestígio social. Assim se explica a presença de cristãos-novos nas fileiras dos confrades, apesar de algumas irmandades levantarem problemas ligados à limpeza de sangue, como se observou na artigo sobre a Confraria do Rosário dos Brancos, onde certos irmãos, perante a presença de irmãos negros, preferiram filiar-se na Confraria do Santíssimo Sacramento, cujos estatutos continham geralmente a cláusula de limpeza de sangue e vedado a “todas as raças proibidas pela nossa santa Fé”. Por outro lado, saliente-se que algumas irmandades colocavam limites etários à adesão: as mulheres podiam integrar a maioria das confrarias e as havia especificamente para negros e mulatos.

            Algumas irmandades medievais foram absorvidas pelas Misericórdias, como se observou no caso da Irmandade do Espirito Santo, absorvida, de uma forma bastante contestada, pela Misericórdia, como se encontra sobejamente descrito no Livro da Misericórdia e do Espirito Santo de Garvão.

            Igual destino terá acontecido também com as restantes Irmandades ou Confrarias do concelho de Garvão, pois a Misericórdia, animada de proteção real, não só rivalizava com as restantes Irmandades do concelho como igualmente invejava a sua riqueza e através de posturas reais eventualmente veio a conseguir.

publicado por José Pereira às 11:26

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