Segundo Ana Margarida Arruda, o Cerro do Castelo de Garvão, apresentava-se, como o povoado central de pequenos aglomerados ou habitats limítrofes. A existência do seu santuário, cujo Depósito Votivo, posto a descoberto, aponta para um local de culto de grandes dimensões, sinónimo da sua importância e predominância na região, leva a crer que o Cerro do Castelo de Garvão seria o local onde se centravam os mecanismos de controlo, não só religiosos, mas, também, de coesão social e económica dos grupos circundantes.
A sua supremacia, conjugando uma potencial riqueza agrícola com o acesso, sem intermediários, aos metais, estender-se-ia aos povoados limítrofes. De facto o Cerro do Castelo de Garvão, situado entre a peneplanície, do rio Sado, a Norte, rica em solos agrícolas, e a região Sul, associada ao rio Mira, rica em metais, permitiu uma superioridade económica e estratégica conduzindo-a a uma afirmação como centro religioso-político-económico da região.
As sondagens arqueológicas efectuadas, forneceram materiais cerâmicos com a decoração denominada “retícula brunida”, própria do Bronze Final.
O modelo de subordinação revelar-se-ia também verosímil no caso de se considerar que a importância que o Cerro do Castelo de Garvão detém na II Idade do Ferro só podia ter tido origem numa presença imediatamente anterior. Sendo frequentes as informações sobre a sua ocupação durante o Bronze Final (Beirão et al., 1985, 1987), não é de facto de desprezar a hipótese de o sítio ter estado ocupado durante a I Idade do Ferro.
Neste caso, o Cerro do Castelo de Garvão apresentava-se, de facto, como um potencial “Lugar central”. A sua supremacia, conjugando uma potencial riqueza agrícola com o acesso, sem intermediários, aos metais, estender-se-ia ao povoado de Arzil e a sua superioridade económica e estratégica conduziria à sua afirmação como centro político-económico, pelo menos à micro-escala local.
Esta situação parece indubitável, durante a II Idade do Ferro, onde na sua área de influência directa podemos colocar, nesse momento, os povoados de Ilha Grande e Fonte Santa, algo mais distantes, localizados na área das ribeiras do Sado. É inquestionável que a existência do seu santuário, certamente de grandes dimensões, o que indica a sua importância, permite afirmar que o Cerro do Castelo de Garvão era o local onde se controlavam os mecanismos de coesão social e económica de grupos gentilícios ou supra-gentilícios (Correia, 1996b), durante a segunda metade do I milénio a.C. (1)
Deve salientar-se que se em alguns casos os povoados se implantam em locais nunca até então ocupados, em outros verifica-se uma instalação directa sobre os níveis do Bronze final, como parece ocorrer no Cerro do Castelo de Garvão, por exemplo. A primeira situação, aparentemente mais frequente, estará demonstrada em vários sítios do Alentejo Central e do Baixo Alentejo, concretamente na área urbana de Beja, nas Mesas do Castelinho, no Castelo Velho do Degebe e nos sítios intervencionados por Manuel Calado e Leonor Rocha, nos concelhos do Alandroal e Borba, concretamente o Castelo Velho, a Rocha da Mina e o Castelão (Calado e Rocha, 1997). (2)
1 Ana Margarida Arruda. A Idade do Ferro pós-orientalizante no Baixo Alentejo. Revista Portuguesa de Arqueologia. volume 4, número 2, 2001, pag.238
2 Idem. P. 287