Homenagem a um Poeta Popular
Ia-se à feira em Maio e entre os vendedores ambulantes, aguadeiros e cauteleiros, sombreireiros e adivinhos, sobressaiam os quadreiros populares.
Poetas do instantâneo, do improviso e do repentismo. Cantavam na feira e vendiam folhetos imprimidos.
Não tinham casa fixa, viviam ao relento ou nas arramadas e palheiros d´alguém. No inverno encostavam-se às comedias de algum trabalho sazonal e em chegando a Primavera era vê-los a calcorrear as feiras e festas da região.
A oralidade e a tradição transmitida eram os seus dons, cavados no reportório temporal da região, na herança familiar.
Álvaro Pedro morreu.
Já poucos se lembram dele.
A sua cova daqui a uns anos passará despercebida.
Só restará a memória da sua poesia, enquanto o papel não debotar e se perderem para sempre.
Daquele que foi o último dos últimos duma larga geração de poetas populares que calcorreavam as feiras da região e provocavam o imaginário colectivo.
Álvaro Pedro morreu.
E com ele morreu toda uma tradição, não só dos vendedores de folhetos e cantadores de feira.
Da própria feira tradicional de Garvão já só restam resquícios.
Os tangedores da viola d´arame globalizaram-se.
E os mendicantes itinerantes, Ti´manél da Vaca-Gorda, o Figueiredo e o Finfas entre outros, poderão ter desaparecido.
Mas que fique, pelo menos aqui, registado estes versos de Álvaro Pedro, testemunho de vivências dum tempo que nos precederam, duma cultura nossa e desinfestado de influências alheias.
Vou mostrar aos bailarinos
Sobre a Vila de Garvão
A dança de Carnaval
Deu-nos muita animação
O Povo gostou de ver
Tanto o velho com o novo
A linda dança do povo
Para ao povo compreender
Tenho que enaltecer
Que na dança hoje são finos
São mais puros os destinos
Que o povo aplaudiu
Com o povo todo viu
Vou mostrar aos bailarinos
Foram mostrar à Funcheira
A certos ferroviários
Aos filhos dos operários
Dando valor à bandeira
Encantando a Vila inteira
Dentro do meu coração
Deu alegria e paixão
Aprenda quem vai estudar
Eu tenho que os saudar
Sobre a Vila de Garvão
Um deles com tambor
A acetar-lhe pancadas
A dança das namoradas
Onde mora o amor
Junto igual o tocador
Alegrando o pessoal
Deste lindo Portugal
Do Algarve até ao Norte
Ganharam no passaporte
A Dança de Carnaval
Mostrando peças antigas
Ao povo português
Só vem no ano uma vez
Para as pessoas antigas
Aufere-lhes estas cantigas
E uma boa recordação
Com brio e opinião
Como foram a sua Sardoa
Visto por tanta pessoa
Deu-nos muita animação