Quem é que não gosta de Açorda?
Alentejana, claro.
Com pão de trigo. Como é óbvio!
Porque o pão alentejano já está abastardado.
Já com uns diazitos. Mas nada de paposecos ou pão de Mafra.
E, com água do poço, fria, fresquinha, pesada com sabor ferrenho.
Porque a da torneira sabe a cloro, a mofo e, e, e ...!
Com azeite puro, do lagar, esverdeado, daqueles que teimosamente não escorre da garrafa.
Porque o da loja está filtrado e parece óleo.
Ah… e alhos da horta pisados, nada de espremedor de alhos ou de alhos secos em pó que vêm em canudos de plástico e é só borrifar.
E, claro os coentros (não se enganem e ponham salsa), tal como os alhinhos, da horta, criados também com água do poço, de preferência ferrenha.
E se não for pedir demais, os ovinhos, um para cada freguês se houver, se não houver esmaga-se um e provam o caldinho, também de galinha criada no campo a alimpaduras, minhocas ou farelos, (não lhes deem farinha industrial carregada de hormonas, senão estragam tudo).
Não ponham cebola nem grão-de-bico senão sai uma açorda afrodisíaca. Pelo menos é o que diz o Tratado Árabe do Amor, O Jardim Perfumado.
A normal pitada de sal grosso, porque o fino não sabe a sal, uma colher de aluminio e umas talhadas de toucinho frito e, e, … apanhá-las.
Chamemos-lhe Açorda ou se quisermos impressionar os amigos chamemos-lhe Çorda, do Árabe Andaluz thorda, (não se esqueçam que o th em árabe lê-se ç e ponham o a como em azeite az-zayt, ou açucar as-sukkar).
Comida sacra, as freiras e frades adoram-nas, principalmente depois do jejum.
Comida de profetas, Maomé adorava-as. Não fosse afinal o seu bisavô que as inventou.
Comida de reis, Afonso II adorava-as, (não há referências, mas era gordo).
Comida para todos.
Seja açorda cega ou rica, conforme os acompanhamentos.
Está aí para durar.