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Faleceu há 50 anos

 

             Volvidos 50 anos sobre o falecimento do Arqueólogo Abel Viana (1896-1964), pretende este jornal homenagear esta figura marcante e incontornável da Arqueologia Portuguesa e evocar a sua generosa herança e o seu contributo em termos de produção científica e bibliográfica. Os seus trabalhos extrapolaram em muitos os limites geográficos do seu Minho natal, nos quais se destacam as investigações realizadas na região do Algarve e Alentejo, o exemplo do empenho laborioso no estudo, salvaguarda e divulgação do património local/regional, garantindo assim às gerações vindouras o acesso a testemunhos imprescindíveis para o conhecimento da ocupação humana no nosso país.

               No Alentejo produziu grande parte das suas investigações históricas e arqueológicas, principalmente na região de Beja, embora nunca tenha perdido o contacto com o Algarve e o seu Minho natal. Referente a Garvão dá a conhecer pela primeira vez os monumentos megalíticos que se encontram em torno da vila nas publicações “Monumentos megalíticos dos arredores do concelho de Ourique” editadas pelos anos cinquenta do século passado. Os materiais arqueológicos que encontrou foram entregues a museus públicos como o Museu dos Serviços Geológicos em Lisboa, os museus de Elvas, Faro, Lagos, o Museu de Viana do castelo, o Museu – Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança e o Museu Regional de Beja, cumprindo a promessa de preservação, salvaguarda e divulgação da nossa herança histórica e cultural.

               O último grande trabalho a que se dedicou foram as escavações arqueológicas do castro de Nossa Senhora da Cola, no concelho de Ourique. Sob o patrocínio da Fundação Gulbenkian, começou os trabalhos em 1958 baseado nas primeiras referências de André de Resende, D. Frei Manuel do Cenáculo e Leite de Vasconcelos. Colocou a muralha a descoberto, restaurou-a, procedeu à escavação do local e inventariou os materiais aí encontrados. Estudou todo o conjunto da Cola (castelo, fortificações secundárias e respetivas necrópoles) descobrindo o que restou de um monumento megalítico no Barranco da Nora Velha e uma necrópole da Idade do Bronze na Herdade da Atalaia. Neste conjunto encontrou materiais arqueológicos das sucessivas ocupações: neolítico, romano, visigótico e islâmico. Alguns destes importantes achados deram entrada no Museu Regional de Beja.

             Depois de seis longos anos de trabalho na Cola, fez a última visita ao local em janeiro de 1964, integrado numa visita com o ministro das Obras Públicas. Todo o esforço e empenho que colocou na descoberta, estudo e divulgação das ruínas tinham valido a pena, assim o expressa numa carta enviada a um amigo e discípulo:

              “Foi grande o dia para Ourique, uma verdadeira data histórica. E para a Senhora da Cola Idem. No ‘Diário do Alentejo’ terás visto aquele passo do ministro no qual assinalou a contribuição importante que para o património arqueológico do País representa o castro da Cola que há muito desejava visitar e cuja defesa e valorização eram apoiados com fundamentado interesse pelo Ministério das Obras Públicas. Vê lá tu! E eu com tantas atrapalhações, porque o dinheiro tem sido pouco e pago tão tarde que tenho andado sempre com milhares de escudos adiantados do meu bolso e a incerteza de que mos paguem! Isto é assim mesmo meu velho: temos que nos arriscar e sacrificar muito, até que nos vejam e nos façam justiça. Agora parece que a coisa carrila devidamente. Antes que arrefeça, vou-me desunhar em relatórios, exposições, sugestões, petições, (...).”

            Não chegou a concretizar este último sonho, faleceu na madrugada de 17 de fevereiro de 1964. Por sua expressa vontade foi sepultado em Beja, a sua amada Pax Julia. Tinha 68 anos.

 

publicado por José Pereira às 14:47

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