No Cemitério Velho
Passado um século depois do levantamento de um corpo no Cemitério Velho da vila de Garvão, ainda hoje é do conhecimento da existência de uma “Santa”, sepultada nesse mesmo Cemitério. Cem anos depois deste acontecimento, a sua morte, a sua memória e o lugar do seu túmulo continuam a fazer parte do imaginário colectivo da vila de Garvão.
De facto ao se proceder à exumação do corpo por necessidade de sepultar um familiar, este tinha resistido à decomposição e apresentava-se praticamente intacto, notando-se unicamente na ponta do nariz alguma detioração. Segundo a população tal facto deve-se por ser forneira e ter de cheirar o pão e os bolos quentes saídos do forno.
A existência de corpos incorruptos encontra-se relatado em vários cenários culturais. Apesar de actualmente a ciência nos fornecer várias explicações para este fenómeno, tal não o era assim em 1918, (precisamente na mesma altura das aparições de Fátima). Numa sociedade essencialmente analfabeta, religiosa e supersticiosa esses acontecimentos tomavam uma feição miraculosa e propiciadora de graças.
Assim estes corpos tomavam a denominação de “Santos” e assistia-se a uma sacralização do espaço, transformando a sepultura em um novo local de culto, metamorfoseando o túmulo em um altar, tornando-se este em local de oferendas, coberto por placas de agradecimento, coroas, fitas e velas, que uma legião de novos crentes deposita em agradecimento por alguma graça alcançada e que muitos acreditam poder realizar milagres e atender pedidos e promessas.
Tal foi o caso igualmente em Garvão.
Com a trasladação do corpo para o interior da Igreja, a noticia espalhou-se, “da existência de uma Santa em Garvão”, onde a população, tanto da vila como das terras vizinhas, ocorreram com enorme fervor religioso e solenidade que caracteriza estes fenómenos, dando lugar à imaginação colectiva e inclusivamente a atribuir-lhe poderes milagrosos que se evidenciavam nalgumas pessoas que se diziam “curadas”.
Perante esta situação e por pressão do Administrador do Concelho, o regedor, (ou o presidente da Junta, segundo outras versões), mandou enterrar novamente o corpo na mesma sepultura, contudo tal acção não desmotivou as pessoas de continuarem a prestar culto e obtenção de alguma graça no local da sepultura no Cemitério Velho. Esta deposição de oferendas continuou por mais algum tempo, tendo-se perpetuado na memória popular até aos nossos dias.
Segundo informações das pessoas mais idosas da vila, a “Santa”, era esposa de Bento Guerra e mãe de Joaquim Guerra e Bento Guerra que casou com a Ana Charrua, tia de vários elementos da família Charrua a residirem na vila de Garvão.