É difícil ouvir falar de "um Garvão” que não assuma uma perspectiva de divisão contaminada de pseudo-interesses tacanhos.
Deve-se acreditar acima de tudo na diferença, na multiplicidade de opiniões e vontades como suplemento vitamínico e gerador de escolhas para uma vila mais próspera e saudável.
O desconhecimento, a falta de visão, a falta de ambição, o fechamento sobre si próprios – face ao desconhecimento do exterior - defendido em surdina por alguns, seja face às restantes regiões que nos rodeiam, seja face a um mundo muito maior, cheio de oportunidades, conhecimentos e ideias, leva a uma perigosa ignorância, estagnação e degradação das instituições culturais e sociais.
É preciso recusar-se a pensar que por cá não existem pessoas cultas, com outros conhecimentos e visões, que por cá não existem leitores seguidores de José Saramago, de Fernando Pessoa, de Florbela Espanca, de Eça de Queiróz, Agostinho da Silva ou Camões, que por cá não existem cinéfilos seguidores de Woody Allen, Chaplin, Oliver Stone ou Michael Moore, ou fãs incondicionais de pintores, músicos, historiadores ou filósofos.
É preciso recusar-se a pensar que por cá não existem pessoas que se destacaram como profissionais, nas várias profissões que exerceram, ou militares que exemplarmente progrediram nas suas carreiras, que por cá não existem pessoas que se destacaram na área da medicina, ou na engenharia e arquitetura, nas ciências agronómicas ou na educação, cujos contributos em muito contribuiriam para o progresso desta terra.
Falamos de diferentes olhares, de um Garvão que nos foge debaixo dos pés, de um excessivo que nos cega e que muitas vezes nos afasta do que realmente somos e precisamos, culturalmente, economicamente e socialmente, com a participação cívica e contributos reais ao desenvolvimento desta terra. Mas, contudo, uma susceptibilidade quase subliminar face ao desconhecido continua a marcar comportamentos. Aqui mesmo, onde as opções particulares continuam a vigorar e a dominar face ao interesse colectivo, continua-se a assistir a fronteiras invisíveis e muitas vezes a cair no erro de privilegiar interesses próprios.
Do cimo desta falsa altivez, o contributo surge por vezes na forma de uma massa crítica inconsciente, sem forma, formato ou feitio. Os resquícios da diáspora alentejana fazem-se sentir precisamente cá dentro e não lá fora, com residentes regionalizados e meros simpatizantes da visão do próprio umbigo sem levantar a cabeça, tentando, contudo, mostrar aos outros, demagogicamente, as virtudes duma palestra impugnada de falsas promessas que depressa se esquecem fora dos períodos eleitorais.