Na Necrópole Medieval de Garvão, junto ao Cemitério Velho, descobriu-se uma Estela Funerária, (acima reproduzida), que identificava o local de enterramento de um besteiro.
As primeiras referências aos besteiros ou balestariis encontram-se no foral de Tentúgal de 1108 e no de Sernancelhe de 1124; na carta de foral de Miranda do Corvo de 1136, mencionam-se os “sagitários”, embora as Cartas de Foral, atestem a sua presença como força militar concelhia desde o seculo XII, a sua organização num corpo especial, os besteiros de conto, só aconteceu no terceiro quartel do século XIV. Coube a Dom Dinis criar este exército, em 1299, mais profissionalizado, disponível e fiel que o recrutado pelos processos tradicionais concelhios.
Os corpos de besteiros constitui uma das mais originais e bem-sucedidas experiências da organização militar portuguesa medieval. De facto, a milícia dos Besteiros do Conto, criada por D. Dinis em finais do século XIII, marcou presença nas mais importantes operações militares de todo o século XIV e atingia, nas primeiras décadas do século XV, um total de 5000 efectivos, provenientes de perto de 300 unidades locais de recrutamento.[1]
O Foral Velho de Garvão, de 1267, menciona igualmente os Besteiros no fólio 21 verso, numa postura denominada De forro de cavaleyros, e de peos, e de veesteyros, onde estipula que os senhores da terra os façam as devidas armas de guerra denominadas por bestas. Estamos assim perante uma força militar anterior ao estabelecimento dos besteiros de conto por D. Dinis em 1299. Segundo António Martins Quaresma, em 1385 o número de besteiros em Garvão era de 14 e em 1422 seria de 18. [2]
A seguir aos cavaleiros, o mais importante corpo militar era o dos besteiros, que já terão desempenhado um papel fundamental nas campanhas de D. Afonso Henriques e continuaram a aperfeiçoar-se ao longo da primeira dinastia.
Na cidade de Évora, em 1306, entre as armas que os moradores possuíam contam-se o alfanje, a espada, o estoque, o dardo, a lança, o cutelo, o punhal, a porra e a besta. Esta última arma, especialmente eficaz e mortífera, levará à formação de um corpo militar especial, o dos besteiros, que devem ter desempenhado um papel fundamental nas campanhas da reconquista, desde o início do reinado de D. Afonso Henriques, e se continuaram a aperfeiçoar, ganhando tal importância que o foral de Coimbra, Santarém e Lisboa, de 1179, lhes reconhece um estatuto idêntico ao dos cavaleiros: Balistarii habeant fórum militum.[3]
A besta difundiu-se na Europa no século XII, havendo quem diga que foi trazida de Bizâncio por altura das Cruzadas. Tendo-se revelado uma arma extraordinariamente mortífera, e perante a divulgação que já tinha alcançado, o concílio de Latrão proibiu o seu uso contra os cristãos.
O corpo de besteiros foi eventualmente substituído pelos espingardeiros criados no segundo quartel do século XV, ainda assim, mais do que a substituição imediata de uma milícia pela outra, a administração régia procurou, ao longo do século XV, convergir os contributos dos dois setores. A inserção da pirobalística no cenário bélico não significava, no entanto, que os contingentes de besteiros perdessem subitamente a sua importância militar; as alterações que levaram à substituição das armas neurobalísticas pelas armas de fogo portáteis foram graduais e acarretaram um século de convergência dos dois modos de fazer a guerra.[4]
[1] José Daniel Braz Malveiro. Estelas Medievais do Distrito de Beja. Volume I. Dissertação de Mestrado em Arqueologia, UNL-FCSH. Janeiro, 2013. P. 76.
[2] António Martins Quaresma, (2006) Odemira histórica – Estudos e documentos, Câmara Municipal de Odemira.
[3] António Matos Reis. História dos Municípios [1050-1383]. Lisboa, 2006.
[4] Pedro Filipe Fernandes Sebastião. Os Espingardeiros. Um Novo Corpo Militar No Alvor Da Modernidade (1437-1495). Dissertação de mestrado. Coimbra, 2018.