O CENSO
Os resultados do censo à população de Portugal realizados em 2021, já se encontram disponíveis para consulta, no endereço eletrónico do Instituto Nacional de Estatísticas.
No que diz respeito à população portuguesa em geral, nota-se que houve um decréscimo de 2%. Em dez anos Portugal perdeu 214.286 habitantes.
Mesmo contabilizando a entrada de novos imigrantes, cerca de 35.780 indivíduos, não bastou para compensar a redução da população portuguesa.
Nota-se igualmente que os territórios no interior do país foram os que perderam mais população, sendo a área da grande Lisboa e o Algarve as únicas regiões onde se registou um aumento populacional, 1,7% e 3,7%, respectivamente.
No concelho de Ourique registou-se uma diminuição de 587 pessoas, cerca de 10.2%, passou de 5.389 habitantes em 2011, para 4.842 em 2021. A freguesia de Ourique foi onde se registou menos perca de população, cerca de 2.3%, de 67 pessoas, de 2874 em 2011 para 2807 em 2021. Nas restantes freguesias registou-se uma redução na população de 22.4% em Santana da Serra, correspondente a 190 pessoas, de 850 em 2011 para 660 em 2021 e em Panoias/Conceição notou-se uma perda de 16.2%, correspondente a 94 pessoas, de 582 em 2011 para 488 em 2021.
Quanto à freguesia de Garvão, o censo relativo a 2021, devido à união das freguesias de Garvão e Santa Luzia, ocorrido depois do último censo de 2011, os números apresentados correspondem às duas povoações, apresentando uma quebra, em 2021, de 18.1% relativo ao censo de 2011.
Como a freguesia de Garvão apresentava uma população de 731 habitantes no censo de 2011, se retirarmos a quebra de 18.1% registada no censo de 2021, (partindo do princípio equitativo para as duas freguesias), teremos uma quebra para Garvão de 132 habitantes e um total residente de 598 pessoas. Nota-se assim que a freguesia de Garvão tem vindo a perder população desde a década de 1950 quando apresentava 2.282 Habitantes, uma perda de 1684 habitantes em relação a 2021.
Da mesma maneira que se nota a nível geral do país uma fuga da população do interior para os grandes centros urbanos e para o litoral, também nos próprios concelhos do interior se nota uma concentração da população para as sedes municipais em detrimento das próprias freguesias.
A QUESTÃO
Aquilo que as últimas décadas nos mostra, principalmente desde o 25 de Abril de 1975, é a questão da sustentabilidade populacional no interior alentejano perante uma sociedade em mutação constante, aquilo que era verdade nas décadas de sessenta e mesmo na década de setenta do século passado, não se coloca agora. A publicação de uma certa cultura neo-realista, durante o século XX, onde abunda a vilificação de um patronato rural e a vitimização dos trabalhadores agrícolas, (José Cutileiro, Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, José Rodrigues Miguéis, Fernando Namora, entre outros[1]), tão presente na geração que participou nas ocupações de propriedades agrícolas, cujas privações, longas horas de trabalho diário, longo períodos de desemprego, fome e miséria já ouviram nas gerações que os precederam, coloca-nos hoje numa realidade distante e ininteligível para os recém-formados engenheiros ou médicas, filhos e filhas do barbeiro, do taberneiro ou do lojista da terra, cujos avós eram pastores ou almocreves e que aspiraram a caseiros ou donos de uma pequena lavoura e hoje compram casas de férias no Alentejo onde, nos fins-de-semana recordam a vida árdua dos pais e avós. Longe vão os tempos em que toda a ânsia era alcançar na morte a paz e o descanso que nunca tiveram em vida.
Colmatar os desequilíbrios existentes, as diferenças, as disparidades e as assimetrias continuadas entre as grandes cidades e o litoral com mais população, com habitantes mais jovens, regiões mais ricas e com mais oportunidades de emprego, de serviços, equipamentos e infraestruturas, e o interior despovoado, envelhecido e com menos oportunidades de emprego ou empresariais, constitui o grande desafio, não só a nível governamental, mas igualmente a nível das responsabilidades das autarquias locais.
A fixação das populações nas zonas ameaçadas, a formação profissional dos habitantes e oportunidades de emprego, a inovação e o desenvolvimento são sustentáculos para um crescimento e desenvolvimento inteligente, abrangente e sustentável do território, capazes de inverter o envelhecimento da população e o grande défice na reposição geracional, a fraca oferta de emprego, o baixo empreendedorismo, os níveis críticos de infraestruturas e serviços, a redução da actividade económica e que obrigam a população a migrar e reverter a perda de capital humano, é um dos principais desafios das políticas de coesão territorial, económica e social
Os baixos níveis de escolaridade da população ativa no interior são, também, factores que condicionam o desenvolvimento equilibrado da região. O combate ao abandono escolar e o aumento da população com ensino obrigatório completo são metas a atingir. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, Rendimento e Condições de Vida, Emprego e mais educação significam mais rendimento – 2015, de 13 de maio de 2016, a população com rendimentos mais elevados em 2014, 57,5% tinha completado o ensino superior, em contraste com quase metade da população que apenas tinha completado o ensino básico, viviam, em 2014, com um rendimento muito inferior. Assim, os baixos níveis de educação escolar e de acesso ao ensino superior têm implicações directas nos rendimentos das famílias e na competitividade das próprias regiões onde residem.
Num exame geral, o interior enfrenta movimentos demográficas negativos: perda de população, envelhecimento, baixa taxa de fertilidade, níveis de instrução da população ainda aquém dos nacionais, falta de oportunidades comerciais e taxas migratórias incapazes de equilibrar as restantes realidades, resume, de forma sucinta, os diversos constrangimentos que estes territórios do interior enfrentam.
[1] José Cutileiro, Ricos e Pobres no Alentejo. Manuel da Fonseca, Seara de Vento, Cerro Maior. Soeiro Pereira Gomes, Esteiros. Alves Redol, Gaibéus. José Rodrigues Miguéis, O Pão Não Cai Do Céu. Fernando Namora, Retalhos da vida de um médico.