José Francisco Cunha, natural de Garvão, nascido em 10 de Fevereiro de 1913 e falecido em 13 de Fevereiro de 2012, cuja residência se situava no Largo da Palmeira, (antigo Largo do Rossio), relata-nos com 82 anos, num texto de 1995, sobre a ponte no centro da vila, o Poço da Praça e a Ponte da Ribeira do Monte Zuzarte.
Ao Jornal de Garvão
Lembrando o passado:
Aquela ponte que hoje existe, que passa sobre a ribeira, que liga o Largo da Amoreira à sede da Junta de Freguesia, foi antigamente outra ponte feita em vigas de ferro e pranchas de madeira, servia só para peões. Nesse tempo não havia automóveis, o trânsito para animais e carros era feito do lado de baixo da ponte, passava por uma azinhaga que existia do lado de cá que é hoje propriedade do senhor António Revez, atravessava a ribeira e do lado de lá passava pelo terreno onde está situado o Posto da Guarda Nacional Republicana.
Como a ponte estava já velhinha foi retirada, aproveitaram o pilar do meio e ajeitaram-no, e fizeram a nova ponte que hoje lá se encontra. Foram seus construtores os senhores Francisco José de Oliveira e seu pai, já falecidos, já lá vão muitos anos.
Ainda hoje existe o poço da praça, que antigamente era circundado por uns pilares redondos em cantaria, com a altura de um metro, mais ou menos, aonde apoiava um grande varão de ferro redondo, com a espessura de uns três centímetros; existia também junto ao poço uma grande pia em cantaria, servia para os animais beberem; essa pia deve encontrar-se no quintal do senhor Joaquim Fiel Mestre, porque foi para lá que a levaram. No andar de cima aonde é hoje a Junta de Freguesia era uma escola primária, foi lá que eu aprendi a ler e escrever e fiz a quarta classe. Nas horas de recreio, os rapazes vinham para junto do poço agarravam-se aos varões, pois eles estavam muito firmes, aí é que era dar cambalhotas até mais não, coisas da própria mocidade.
Eu abordei este assunto a propósito do seguinte:
No caminho que liga Garvão à estrada do Monte Zuzarte existe a mesma ribeira, como no inverno a ribeira não dava passagem às pessoas convenientemente, os dirigentes da Junta de Freguesia, desse tempo, levaram as ditas vigas de ferro que estavam na dita ponte, que atrás falei e fizeram uma pinguela com um metro de largura e levaram também os tais varões que resguardavam o dito poço da praça, para fazerem os resguardos da dita pinguela, para as pessoas se apoiarem e não caírem à água. Essa dita pinguela com o andar do tempo caiu para o leito da ribeira e mais tarde ficou coberta com a areia e o cascalho que vinha nas cheias e lá apodreceu.
Isto vem a propósito da necessidade que há de se fazer lá no mesmo sítio aonde existia a pinguela, uma ponteca com a largura suficiente para que possam, de um lado para o outro da ribeira, passar pessoas a pé, automóveis e camiões, pois o trânsito hoje é muito diferente.
A estrada em dias de cheias, quem lá chega fica a olhar para a água e não pode passar. Até em tempo normal, no Inverno, é sempre difícil as pessoas passarem a pé.
Garvão, 1 de Agosto de 1995
José Francisco Cunha