- Livro de Isabel Castro Henriques: Pretos do Sado» – História e Memória de uma Comunidade Alentejana de Origem Africana (Séculos XV).
- Habitante de Rio de Moinhos
- Pastor de Rio de Moinhos
A presença de negros em Portugal está atestada desde o século XV, fruto da expansão marítima portuguesa, iniciada na primeira metade do século XV e a sua presença no Alentejo, nomeadamente no Vale do Sado tem sido objecto de vários estudos relacionados com a sua resistência a certas doenças, como o paludismo que afectavam a população branca.
Julga-se que seria um colonato de escravos, ai estabelecido por serem supostamente imunes ao paludismo, localmente conhecido por febre terçã ou sezões, um mal endémico que durante séculos deixou o território desabitado, eram terrenos insalubres, rodeados de charnecas e pântanos. Traços negroides esses ainda identificáveis nalguns moradores das povoações das margens do rio Sado: cabelo encarapinhado, pele morena, lábios grossos e nariz largo, nomeadamente em Alcácer do Sal, São Romão de Sádão, Rio de Moinhos e São João dos Negrilhos entre outros.
Já José Leita de Vasconcelos na sua obra Etnologia Portuguesa, de 1933, se refere aos mulatos da ribeira do Sado e descreve-os como de pele escura, cabelo encarapinhado e nítidos traços negroides. Tanto os registos paroquiais como os da Inquisição dão notícia de no século XVI, viverem pessoas negras e mestiços nesta região.
Ribeira do Sado
Ó Sado, Sadeta
Meus olhos não viram
Tanta gente preta.
Quem quiser ver moças
Da cor do carvão
Vá dar um passeio
Até São Romão.[1]
Esta presença no reino, ao longo de vários séculos, de um elevado número de indivíduos de origem africana, que no século XVI chegaram a ultrapassar o décimo da população portuguesa, em regiões como a de Lisboa e o Algarve, não pôde deixar de legar marcas reveladoras dessa presença africana sub-sariana.
Apesar de inicialmente, se tratar de uma população estranha, minoritária, marginalizada e alvo de preconceitos pela população branca, pelo seu estatuto não só de escravos, mas igualmente pelas profissões que desempenavam, nomeadamente relacionadas com a agricultura e pastoreio de gados, não deixou contudo de ter um certo impacto, em termos socioeconômicos e demográficos, nas terras onde se fixaram, cuja presença ainda hoje é atestada por nomes de família ou alcunhas, como fulana Preta, fulano Escuro, Moreno, Carapinha, Castanho e Pardo entre outros, assim como na nomeação de certos lugares como Monte da Pretas, Monte Negro, Negrilhos etc.
É neste quadro de dispersão da população negra e escrava pelas várias vilas do interior alentejano que se fundaram e desenvolveram as várias confrarias negras ainda na primeira metade do século XVI, revelando a existência de comunidades escravas importantes. Embora de cariz religioso cristão, não deixava de se notar certas influências da religião tradicional africana nas suas cerimónias.
[1] Recolhida em Alcácer do Sal.