Faleceu em Garvão em 15 de Setembro de 1922.
Estela funerária encontrada no Cemitério Velho e carregada para o Cemitério Novo, inaugurado em 1937, (data do primeiro enterramento), de um negociante de Minde, (Concelho de Alcanena, distrito de Santarém), falecido nesta terra em 15 de Setembro de 1922.
FALESEU – AQUI
MANOEL – ESTE
VÃES – MENGAS
DE MINDE
NEGOSIANTE
DE 66 ANOS
DE IDADE
NASCIDU EM
13 DE – 4 D.1856
E FALESIDO EM
15 DO 9 1922
Mais do que um mercador que corre as feiras e os mercados de uma certa região a vender os seus produtos, e certamente diferente dos comerciantes estabelecidos por conta própria, geralmente com loja ou venda nas vilas e aldeias. A figura do negociante mostra-se não só diferente destes, mas igualmente da tradicional configuração social da Idade Média, guerreiros, lavradores e religiosos.
A atividade do comércio expansivo exigia um tipo social diverso desta tríade, característica do sistema feudal, presa aos vínculos familiares, de estirpe e linhagem da nobreza.
Se ao mercador o objetivo seria vender os produtos que transportava para os comercializar nos vários lugares por onde assentava arraial, já o negociante procurava comprar ou vender, geralmente em grandes quantidades, os produtos produzidos numa certa região para vender noutra.
Sobre este negociante de Minde e o tipo de produtos que procuraria negociar, chega-nos registos de que trabalhavam nesta povoação nos princípios do século XX, várias empresas de fiação e lanifícios, entendendo-se que estaria igualmente ligado a esta atividade e procuraria na região de Garvão, ou os produtos, essencialmente gado lanígero, necessários a serem trabalhados pelas empresas da sua região, ou já os produtos fabricados como mantas, panos, buréis e estamenhas de lã.
A flora na região de Minde propicia o pastoreio de animais de pequeno porte e pouco exigente como a ovelha. Para além do cuidado com os animais e venda das crias, também as mantas e outros produtos provenientes dos animais que tosquiavam, lavavam, cardavam, fiavam e teciam, começaram a ser vendidas noutras parte, principalmente no Sul do país.
Dos produtos fabricados em Minde há a realçar a:
– “manta preta” – usa a lã nas suas cores naturais (castanha e branca). O pastor protegia-se com ela do frio e da chuva;
– “manta parda” – surge com cores vivas, em barras, nas pontas. Apesar da escassez e das limitações na utilização da água, nos anos 30 do séc. XX surgiu em Minde a 1ª tinturaria e com ela, estas novas possibilidades;
– “manta sombreada” – é toda com riscas de 6 tonalidades diferentes e progressivas de verde, castanho e laranja;
– “manta janota” – uns anos depois, aparece a janota, de cores fortes nas suas composições muito trabalhadas.
O apogeu no número de teares e na produção atingiu-se nos anos 50 do século XX, mas, nos anos setenta, os teares foram desaparecendo: uns foram abandonados, outros estragaram-se, outros foram desmanchados, muitos serviram de lenha, poucos se salvaram. Destes, aproveitaram-se algumas peças e outros apetrechos complementares para a montagem do actual centro de tecelagem. Aqui alia-se a tradição e a memória com a contemporaneidade*. Na manufatura das verdadeiras Mantas de Minde respeitam-se os produtos e as técnicas herdados: 100% lã e 100% portuguesa, as receitas de tinturaria, os padrões originais e todo o processo da produção.
*Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro