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Ago 19

(Proposta)

 

A descoberta do Depósito Votivo em Garvão, em 1983, onde as oferendas eram guardadas, depois de previamente oferecidas no local de culto pelos crentes, leva-nos a ponderar sobre a localização do santuário propriamente em si.


A descoberta deste Depósito Votivo, leva-nos igualmente a tecer considerações sobre a possibilidade da existência de outros locais de deposição das oferendas.


Não é de todo plausível que as bases de uma estrutura desta natureza, passados mais de dois mil anos, situado no primitivo núcleo urbano da vila de Garvão, numa zona densamente povoada, onde os vários períodos de construção são visíveis, ainda aflorem à superfície e sejam capazes de serem identificados com o templo em questão.


O que passou com as muralhas do Castelo, cujas pedras que constituíam as suas paredes, foram carregadas ao longo dos anos, para as mais diversas formas de construções na vila, o mesmo seria de esperar de uma estrutura elevada do solo, sem qualquer utilidade actual que justifique a sua conservação todos estes anos, como aquela que aqui se dá a conhecer.


A título meramente informativo, mais que não seja, para divulgar esta singular estrutura que se destaca das restantes construções da vila ou conhecidas na região e que por si só justifica a devida investigação, antes que se proceda a alguma remodelação construtiva que lhe provoque danos irremediáveis.


O edifício que aqui se trata, em terreno privado, existe a cerca de 50 metros do Depósito Votivo e ao mesmo nível topográfico, é uma estrutura de construção pétrea, elevada a cerca de 2.50 metros do solo, sem portas ou janelas, com o topo aplanado, sem qualquer utilidade actual ou que se conheça quem a construiu ou a que propósito, com cerca de 5 metros de comprimento por 3 metros de largura, com acesso por escadaria frontal à mesma largura da edificação.


O que se observa actualmente e caso se venha a comprovar a sua função com o santuário, seria a base desse templo, onde assentaria o resto do edifício e as duas colunas marmóreas que se encontraram nas imediações do local, poderiam estar relacionadas com esta estrutura, cuja similaridade com a base de outros templos/santuários que se encontram no mundo mediterrâneo antigo, leva-nos a tecer paralelismos e considerar esta edificação como digna da devida investigação.

 

De acordo com os parcos indícios que esta edificação deixa vislumbrar, a estrutura sacra incluiria, para além do templo que protegia a divindade, uma cova, situada perto do santuário. Segundo Maria Teresa Moneo,(1) este tipo de estrutura, insere-se na classe de templos urbanos de tipo “semítico”, de que são exemplo os de Alcudia de Elche (séc. VI a.C.) e da Illeta dels Banyets de Campello (séc. I a.C), com os quais mostra parecenças com algumas construções sacras do Oriente e, mais concretamente, do mundo fenício, onde alguns templos são simples recintos, não muito grandes, ao ar livre, que contêm no seu centro o santuário ou capela da divindade, com um simples bétilo, o altar dos sacrifícios e duas colunas que eram símbolos da divindade.

 

Quanto à construção subterrânea, que na Lenda do Flos Sanctorum de 1513 é mencionada como «poço do peego de Santa Eyrea» 64 , tratar-se-ia certamente do que habitualmente se designa “depósito votivo”. Estas estruturas desempenhavam um papel fulcral no culto de Astarté, sendo expressamente mencionadas por Avieno (OM. 241-243, 314-315) como «covas». Estruturas deste tipo descobriram-se noutros santuários ibéricos de clara influência semita, como os do Cerro do Castelo (Garvão, Ourique), do séc. III a.C e os de El Amarejo (Bonete, Albacete), de La Alcudia e de Tossal de San Miguel de Liria. (2)


Esta estrutura destaca-se das restantes construções da zona, pela singularidade da sua construção, imponência, situada num lugar elevado e como se referiu, mesmo que se venha a verificar a sua não conformidade com o templo a que as oferendas no Deposito Votivo se referem, tem todo o interesse a ser devidamente investigado, como estrutura imponente que sobressai das restantes construções típicas da zona.


A coluna “Romana” que se encontra numa das ruas da vila, foi localizada no leito da ribeira relativamente perto deste local, assim como o fragmento de uma outra coluna, que se encontrava junto às hortas e recolhida pelo autor, também se localizava nas imediações do local desta estrutura, (sobre este fragmento de coluna subsiste a dúvida se faria parte do Pelourinho que se encontrava no largo junto aos Paços do Concelho).

 

(1) Maria Teresa Moneo, Santuarios urbanos en el mundo ibérico, em Complutum, 6, 1995, Madrid, p. 249. IN: Luís Mata. O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão. Revista Lusófona De Ciência Das Religiões – Ano VI, 2007 / n. 11, Lisboa. P. 271.

(2) Luís Mata. O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão. Revista Lusófona De Ciência Das Religiões – Ano VI, 2007 / n. 11, Lisboa. P. 284.

publicado por José Pereira Malveiro às 23:29

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