Em fotografias de 1956, do Sindicato Nacional dos Arquitectos, no seguimento do projecto de recuperação, tratamento e organização do espólio do "Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa" (IARP), entre 1955 e 1960, nota-se o estado de degradação da Igreja Matriz de Garvão.
Apesar de em 24 de Maio de 1939 a Igreja Paroquial de Garvão ter sido classificada como Monumento Nacional e haver correspondência, desde 25 de Maio de 1938, entre os vários departamentos da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a alertarem para o estado precário da Igreja Matriz e a necessidade de se fazerem obras de reconstrução, ainda em 1962 essas obras não se tinham realizado.
Em 2 de Abril de 1962, uma habitante de Garvão, de nome Maria Guerreira Gomes, moradora no Largo da Palmeira, escreve ao então Presidente do Conselho, Dr António de Oliveira Zalazar, a solicitar ajuda na reconstrução da Igreja.
As obras foram eventualmente realizadas durante os anos sessenta do século vinte, não obedecendo contudo, à edificação original, com o derrube do galilé abobadado que protegia a entrada e como o arquitecto-chefe, na missiva de 25 de Maio de 1938, aconselhava que se mantivesse.
Uma das particularidades dessa Igreja era precisamente o alpendre, (Galilé) que protegia a entrada de estilo Manuelino, “pelo agradável conjunto que forma com a Igreja”, conforme o mencionado arquitecto menciona.
Outra particularidade era uma pintura que encimava o altar-mor e terá sido destruído durante as obras de recuperação. Apresentava, a toda a largura do arco que compõe o altar, a dita pintura de várias cores, tendo como peça central um brasão da monarquia portuguesa.
Esta pintura tipifica as decorações do brasão real da quarta dinastia: a forma da coroa e dos ramos laterais, aponta para o reinado de D. Miguel ou de D. Maria II.
Apesar de a partir de D. João VI se observar a inclusão do ramalhete envolvendo o escudo, este inclui também a esfera armilar, que aliás já se observava desde D. João I, embora sem os ramalhetes laterais, o rei que se lhe seguiu D. Pedro IV, deixou cair a esfera armilar, mas apresenta um escudo ovalado, é só a partir de D. Miguel ou D. Maria II que de facto o brasão pintado na igreja de Garvão se assemelha com os brasões usados por esses monarcas.
Tudo aponta para o reinado de D. Maria II, devido à guerra civil que envolveu D. Miguel e com a vitoria liberal e a pacificação do território, observou-se uma renovação das artes no reino como se observa nestas pinturas.
Este brasão real, dos tempos da monarquia e apesar da instauração da República em cinco de Outubro de 1910, manteve-se por cima do altar até às referidas obras nos anos sessenta do século passado, em pleno desafio às autoridades republicanas.