Desafio de poetas em Garvão
No livro Sul e Sueste, de Joaquim da Costa, de 1940, consta a vinda de um poeta da cidade, António Gomes Leal, para um desafio de poetas na vila.
Segundo o mencionado livro, o encontro, realizou-se na hospedaria do Manuel Rosa e acompanhado de um farto jantar, onde o digno convidado, não se fazia rogado em elogiar as qualidades das meninas Rosas.
Entre os vários presentes, encontrava-se João da Graça, conhecido poeta da vila, alfaiate de profissão que defendeu as cores da terra, nesta contenda poética.
Aqui o poeta de Lisboa, depois de bem comido e bebido, voltando-se para uma das amáveis meninas Rosas, que serviam à mesa, recitou o seu soneto:
Alucina-me a cor! A rosa é como a lira,
A lira, pelo tempo há muito engrinaldada,
E é já velha a união, a nupcia sagrada,
Entre a côr que nos prende e a nota que suspira.
Se a terra, às vezes, cria flor que não inspira,
A teatral camêlia, a branca enfastiada,
Muitas vezes no ar perpassa a nota alada,
Como a perdida côr de alguma flôr que expira.
Há plantas ideais, dum cântigo divino,
Irmãs de oboé, gémeas do violino,
Há gemidos no azul, gritos no carmezim...
A magnólea é uma harpa etérea e perfumada,
E o cacto, a larga flor, vermelha, ensangüentada,
Tem notas marciais: soa como um clanim!
Os aplausos coroaram o fecho do soneto. O vinho espumava nos copos e a alegria comunicou-se a todos os presentes.
Chegou depois a vez do poeta João da Graça e dedicou os versos à filha por estar doente e vendo-a chorar, recitou :
Lágrimas vertidas
caídas
De uns olhos inocentes,
Não são lágrimas;
São estrelas cadentes,
Estrelas do céu desprendidas...
Cada uma delas
É mimosa flor
Que no meu peito se vem dispor
Hei-de cuidâ-las,
Hei-de regâ-las
Com igual pranto
Se o meu sentimento me chegar a tanto!...
Estes versos causaram sucesso, os aplausos foram muitos e calorosos e finalizaram o desafio com um abraço entre os dois poetas.