28
Out 18

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Filósofo

“O que não te mata fortalece-te”

174 anos depois do nascimento de Friedrich Wilhelm Nietzsche e, 118 anos depois da sua morte, continua atual o modelo filósofo que o tornou célebre.  

Nasceu em Rocken, aldeia alemã, agora parte do município de Lutzen, em 15 Outubro de 1844 e faleceu em 25 de agosto de 1900 em Weimer, também na Alemanha,

Distinguiu-se essencialmente como filósofo, mas igualmente como filologista, poeta, compositor, critico cultural e estudos latinos e Gregos, cujos trabalhos tem influenciado profundamente a filosofia ocidental e, por conseguinte, a história moderna.

Apesar do pensamento de Nietzsche ser demasiado complexo para se resumir em poucas linhas, podemos de uma forma concisa, muito básica, explanar as ideias principais do seu pensamento.

 

O CONCEITO DO SUPER-HOMEM.

Para Nietzsche o homem tem de ultrapassar o medo da morte, tem de deixar de acreditar nas falsas promessas do paraíso ou da vida eterna. O homem não precisa da moralidade religiosa cristã, nem de outros argumentos que negam a ideia da morte. O Super-Homem está em todos nós, não na força física, mas na elucidação intelectual e psicológica.

 

O ETERNO RETORNO

Quantas vezes nos interrogamos sobre o sentido da vida, especialmente quanto esta se transforma numa rotina diária, sem esperanças, frustrados e com a ideia de que se poderia estar a fazer coisas diferentes. A maneira como encaramos este dilema, a forma como reagimos perante as alternativas, faz-nos questionar a maneira sobre as decisões que tomamos e sobre o rumo que se dá à vida.

 

A MORTE DE DEUS

Na sua obra O Anticristo, Nietzsche declara que Deus está morto. Tentava assim atacar a falsa moral cristã. Para o filósofo a bondade que os cristãos apregoam, não é mais do que o medo do inferno. Não é uma bondade genuína porque assenta no medo da punição, propagada pela Igreja cristã. A ideia da moral e da ética deve de ser inerente a cada pessoa e não acreditar em castigos divinos, nem no medo do inferno ou na recompensa do paraíso.

 

O NIILISMO

Talvez o seu pensamento mais conhecido e debatido, o Niilismo é basicamente a descrença total dos valores impostos pela sociedade. Tudo está em questão e nada deve de ser regida em função de nenhum tipo de padrões ou regras. Tudo o que os pais ou a escola nos transmitiram ou ensinaram tem de ser questionado e desacreditado. Só assim, questionando o sentido das coisas, o homem se vê livre de dogmas e responsável em acreditar em si mesmo, criando as suas próprias regras, sem as ameaças de deuses vingativos ou regimes políticos totalitários.

publicado por José Pereira Malveiro às 20:54

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No dia de Todos-os-Santos

 

          Apesar desta tradição ter desaparecido, na grande maioria das terras portuguesas, ainda persiste em certos lugares, nomeadamente na freguesia de Garvão, graças aos esforços de algumas mães da vila e de louvar igualmente o empenho das Educadoras de Infância que procuram manter viva esta tradição, dinamizando as crianças a seu cargo de efetuarem o respetivo peditório, pelas ruas da vila.

             É costume no dia um de novembro, as crianças irem de porta em porta, pelas ruas da vila, com um talego de pano, geralmente feito pelas mães ou avós, a pedirem os bolinhos.

           Raro eram, as famílias, (se algumas), que não acediam a esse pedido, que consistia na maioria das vezes em ofertas em nozes, bolotas, castanhas, amêndoas, figos, rebuçados ou algum bolo que houvesse na altura ou fruta da época.             

             No dia de Todos-os-Santos, era vê-los, a pequenada, de talego, em grupos nas ruas da vila, geralmente de manhã, a baterem de porta em porta a pedirem o bolinho, para muitos era uma oportunidade de comerem alguns figos secos entremeados com amêndoas ou nozes. Era uma festa que a pequenada competia para ver quem recebia mais bolinhos e várias vezes, durante o dia, comparavam o conteúdo dos talegos, para ver o que uns e outros recebiam.

             É uma tradição muito antiga, havendo registos desta prática no século XV, cuja simbologia de partilha e de entreajuda, está bem viva ainda em certas comunidades do interior. Certamente uma reminiscência do culto pré-histórico de lembrar os mortos.

            O conceito de Património Cultural Imaterial, observa-se precisamente no reviver destes hábitos, sem dúvida uma das tradições mais antigas da vila de Garvão. Tradição essa acumulada ao longo de gerações, de facto a herança de uma comunidade, um bem coletivo que deve ser salvaguardado, protegido e divulgado para que continue a ser uma realidade na vila de Garvão e poder ser transmitido às gerações futuras.

publicado por José Pereira Malveiro às 15:56

14
Out 18

CENTENÁRIO

“O famigerado heroi do Crime Grande da Estação do Rocio”

OU MATAVA OU MORRIA 

Parte 8 (de 12)

 

          José Júlio da Costa terá chegado a Lisboa, acompanhado da esposa e de Caetano Rosa, a nove de Dezembro. Nos dias anteriores ao atentado, a catorze de Dezembro, desenvolve enérgica actividade em vários locais da cidade de Lisboa e arredores, procurando e encetando conversas com conhecidos, comprometidos, ou não, com o que se propunha fazer, incluindo marinheiros e outros militares, mas essencialmente junto dos seus antigos colegas carbonários que por esta altura,  constituíam uma boa parte da guarda pretoriana dos democráticos de Afonso Costa, os chamados Formigas Brancas e que agora viam com apreensão a sua actividade politica na sua terra natal, nomeadamente junto dos círculos sidonistas e junto do administrador da Câmara Municipal de Ourique[1] e igualmente das suas acções junto das forças policiais, durante as perseguições aos trabalhadores agrícolas do Vale de Santiago, pela ocupação de terras, no seguimento da Greve Geral de 18 de Novembro de 1918.[2]

          De facto José Júlio da Costa muito dificilmente conseguiria apaziguar os seus antigos camaradas senão com uma acção dramática que o expurgava de todas as dúvidas o seu cometimento à revolução. Se por um lado na capital, alinhava ao lado dos democráticos de Afonso Costa, pugnando por uma via revolucionária, “Afonso Costa no Governo da República marcou o seu lugar junto dos maiores estadistas estrangeiros e para mim foi ele igual a Sebastião José de Carvalho e Melo, este expulsando os Jesuítas e aquele decepando a Igreja. Os monarquicos não podiam ouvir o nome desse homem, que foi e ainda é o maior de todos os republicanos”.[3] 3 Por outro lado, na sua terra natal, não só fazia parte da elite local ao lado dos ricos proprietários, como encetou uma tenaz perseguição aos trabalhadores revoltados do Vale de Santiago ao lado das forças sidonistas.

          Segundo a carta escrita, por José júlio da Costa, reproduzida por Rocha Martins[4] este relata os sítios onde esteve e com quem falou no próprio dia e antes de cometer o atentado, quando descreve que, “Cheguei assim à toa em frente do quartel de marinheiros”, ou de que se lembrou em, “fazer nesse quartel a revelação da morte do Presidente”, e que ali encontrou um marinheiro e lhe perguntou, “se já lá estava a Marinha”, que lhe revelou o plano e, “fiz que ele chamasse um soldado das colónias para o aliciar”, de que este, “teve também gostosamente notícia da morte do Presidente”, descreve igualmente que convidou o marinheiro a ir com ele afim de, “prevenir no Arsenal alguns fixes”, onde o, “marinheiro perguntou pelo sargento Almeida”, que não se encontrava e com o qual José Júlio da Costa queria falar para ver o grau moral da Marinha, pedindo então que lhe trouxessem, “um marinheiro bom republicano” os quais foram jantar no restaurante Silva do Chiado, onde, durante o jantar, foi dando instruções de combate e, “que fossem logo desmontando algumas peças que não fizessem falta a bordo dos navios”, e que igualmente, “os barcos se pusessem abrigados ou fora do alcance da artilharia da terra”, instruiu também, “Que tomassem o Parque Eduardo VII com as peças de grosso calibre e metralhadoras”.

          Ora, muito dificilmente José Júlio da Costa passa a ideia da ocasionalidade desses encontros, ou da falta de concertação, entre alguns sectores da vida politica nacional que planeavam a eliminação física de Sidónio Pais.

          De facto não seria agora um simples marujo encontrado ocasionalmente à porta do quartel dos marinheiros que iria desmontar as peças de guerra a bordo dos navios ou que pusesse os barcos abrigados e fora do alcance da artilharia e muito menos que tomasse o Parque Eduardo VII, (a Rotunda das revoluções), com peças de grosso calibre e metralhadoras.

          Ou havia de facto um planeamento insurrecional que o seu gesto despoletaria, ou de facto José Júlio da Costa foi ludibriado da iminência duma revolução e por quem interessava a morte de Sidónio. Estaria certamente convencido disso e as pessoas que procurou, mais do que meros acasos, seriam de facto, ou seus conhecidos, ou figuras lançadas para o confundir, (com ou sem conhecimento dos próprios), por quem nos bastidores urdia o drama e fariam parte dessa tramoia que o afastou da realidade e o levou a cometer o atentado.

 

[1] O Administrador da Câmara Municipal de Ourique, era, por esta altura, Ricardo Ayres D´Oliveira que em secção do executivo camarário propõe em 22 de Dezembro de 1918, que seja dado à Praça D. Dinis, na parte nobre da vila, o nome de Praça Sidónio Pais. Contudo em acta do mesmo executivo, datada de 5 de Fevereiro de 1919, Ricardo Ayres D´Oliveira é exonerado do cargo de administrador do concelho por decreto do Governador Civil de Beja, nessa mesma reunião é igualmente proposto ser dado à Praça D. Dinis o nome de Praça da República, em clara oposição ás aspirações de Ricardo Ayres D´Oliveira. Assistia-se assim à limpeza dos cargos públicos dos últimos sidonistas. Ricardo Aires de Oliveira, seria novamente, em 1937, Presidente da Comissão Administrativa do Concelho de Ourique empossado em plena ditadura do Estado Novo. Esta passagem de elementos Sidonistas para a ditadura Salazarista, como se observou, não se limitava somente à capital ou ao governo, observava-se igualmente nestes concelhos do interior do país.

[2] “José Júlio da Costa pertencia ao partido democrático, portanto adversário do Sidónio; mas na questão da greve agiu como lavrador, como defensor do capitalismo, sem noção dos interesses partidários e sem consulta aos superiores hierárquicos do partido. O certo é que, depois desta saída à frente da força da G.N.R. não mais voltou a Garvão. A greve teve início em 18 de Novembro; esta acção da guarda republicana sobre os rurais do Vale de Santiago, já foi depois do dia 20. Diz-se (dizia-se) que José Júlio seguira para Beja, capital do distrito e ali os chefes distritais do partido tê-lo-iam posto ao facto da situação, possivelmente admoestando-o do trabalho prestado ao ditador Sidónio Pais, pelo que tomou o rumo de Lisboa e em 5 de Dezembro cometeu o atentado. Há quem diga que essa acção foi ordenada pela maçonaria, mas eu, mais não sei do que estou a contar.” In: Sequeira. Lisboa. 1978. P. 24

[3] Rocha Martins, 2008, p. 389.

[4] Rocha Martins, 2008, p. 388 e seguintes

 

In: José Pereira Malveiro, José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio, Garvão, 2018

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publicado por José Pereira Malveiro às 19:37

02
Out 18

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O musicólogo Michel Giacometti, em 1971 na Estação das Amoreiras,  para o programa Povo que Canta da RTP. 

 

          Quando se fala no cante a despique, – seja no Norte do país ou no Algarve – a noção que se tem é do canto à desgarrada ou ao desafio. Contudo ao se esmiuçar a pergunta e exemplificando o modo particular deste cantar, depressa se chega à conclusão que só neste canto do Sudoeste Alentejano, dobrando a serra para o Algarve, se encontra, de facto, esta peculiar forma de canto.

          Contudo, mesmo aqui, se confunde o cante a despique com o canto ao baldão, não fosse afinal esta forma de cante diferente daquela, sem as regras que de facto enformam e tipificam o cante a despique. O baldão será uma forma de canto – à balda – que não obedece às regras que regem o cante a despique, não será mais do que um cante ao desafio, em que o cantador seguinte, começa o seu cante pegando nas palavras do anterior, ao som da viola de arame, (conhecida actualmente por viola campaniça) e ao estilo de qualquer música popular.

          Todavia, segundo o programa da RTP, Povo que Canta, (cujo link se reproduz mais abaixo), o cante a despique não deixa de estar desvirtuado da sua forma original e sofrer influências estranhas à sua pureza tradicional, (introduzindo diferentes tonalidades e instrumentos musicais). O despique na sua forma original tem raros interpretes, homens de idade cuja voz já não segura o canto. Os mais novos, como vimos, quando integrados no despique fogem â melopeia ancestral e procuram efeitos fadistas a que os mais velhos nem sempre são insensíveis. O que sobrevive hoje do despique tradicional, portanto e salvo raras excepçoes é uma expressão hibrida que aliás não deixa de ter o seu interesse como produto de aculturação.

          Não se encontra igualmente nenhuma outra forma de cante que se assemelhe à estrutura de cante a despique, seja nos outros cantares populares como inclusivamente na poesia portuguesa. A estrutura estrófica, ABCA+BA do cante a despique é totalmente diferente da do cante ao baldão, ABCB+CB, ou por assim dizer de qualquer outra estrutura estrófica conhecida.

          Mas mais importante do que isso, - e esta é a grande singularidade e riqueza do cante a despique – é a obrigatoriedade de organizar a estrofe em volta de um ponto pré-combinado e as penalizações daí decorrentes, para quem as falhar, - para além de ter de pagar uma rodada de copos de vinho ou outra bebida, também a humilhação sofrida -. As regras estendem-se igualmente a outras facetas do cante em cada estrofe, como exemplarmente e em devido tempo, António Machado Guerreiro as descreveu em “O cante a despique”,[1] cujo PDF se anexa mais abaixo.

          Na combinação estipulam-se as regras, mas uma e inalterável, está fora de combinações, nem sequer se menciona: não vale «pisar o ponto». As outras regras derivam do acordo: não vale (ou vale) «fugir ao ponto»; vale (ou não vale) «fugir à rima» — falta de rima entre o primeiro verso e o quarto; não vale toantes (só consoantes) para ponto; não vale (ou vale) toantes para a rima (1.° e 4.° versos) ; não vale «roubar o ponto» (empregar a terminação ponto— no fim de qualquer verso que não seja exactamente o segundo, que depois se repete como quinto). Combina-se ainda se o que pratica qualquer das faltas bebe ou não bebe vinho na rodada que paga, ou na mais próxima. E parece-nos que são todas as condições. Ë claro que há tantas mais proibições quanto mais reconhecida é a categoria dos cantadores.[2]

          Assim desde a falta de rima, noção do que é rima toante e rima consoante, falta de ponto ou pisar o ponto, - repetir uma palavra já utilizada por outro cantador -, constituem regras que não só prestigiam o vencedor, como igualmente humilham quem se engana, vítimas das gargalhadas, troças e críticas mordazes e escarnecedores da assistência. O bom cantador a despique improvisa no momento que vai cantar, nunca utilizará as estrofes de outro cantador, mesmo utilizadas noutra ocasião.

          O cante a despique deverá ser, das maneiras de cantar alentejanas, a menos colectiva, nas modas canta o solo e o coro repete, e igualmente assim era (e é) nos «balhos» de roda, dentro de casa ou em redor dos mastros. Nestas modalidades ou no baldão as quadras podiam ser de toda a gente, sem serem de ninguém, e o improviso era o menos vulgar. No cante a despique a estrofe é pessoal, improvisa-se para o momento em que se vai cantar, não se escreve, não se aprende. E se é certo que os bons cantadores fixam estrofes para utilizarem noutras ocasiões, não é menos certo que elas são suas, e um bom cantador não utilizará as que outro tenha criado.[3]

          Veja-se igualmente os exemplos dados por António Machado Guerreiro, recolhidos em Colos, nos finais dos anos cinquenta, em torno do ponto ida:

(os dois primeiros versos repetem-se) 

 

Coitado de quem não tem     (A)                      

Nem caminho nem guarida.   (B)    

Vive aí abandonado,              (C)

Sem carinhos de ninguém.     (A)

Nem caminho nem guarida     (B)

Coitado de quem não tem.      (A)

 

O parceiro seguinte tem de encontrar para o final do seu segundo verso uma palavra terminada em -ida, que é o ponto. Cantará, por exemplo, assim:

(os dois primeiros versos repetem-se)  

 

À falta de saber ler             (A)   

Há muita gente atrevida.    (B)   

Se não há conhecimento,   (C)

As vezes vão a sofrer.        (A)

Há muita gente atrevida     (B)

À falta de saber ler.            (A)

 

Cante a Despique.pdf

  

[1] “O cante a despique”, in Revista Lusitana Nova Série, 2, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos / Instituto Nacional de Investigação Científica, 1981, p. 61.

[2] Idem. P.66

[3] Idem. P. 64

publicado por José Pereira Malveiro às 00:43

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