25
Set 18

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Igejinha de S Predro66 (1).jpgIgejinha de S Predro88 (2).jpg

  Junto à Estrada Real

          A Igrejinha de São Pedro, como é conhecida, fica situada a cerca de 1 km de Garvão, na antiga Estrada Real do Algarve, ex-Estrada Romana, no caminho para Panóias, Messejana e por aí fora até Lisboa.

          Actualmente, encontra-se em ruínas e sem telhado, fruto do abandono a que tem sido votada ao longo dos anos. O desinteresse por esta Igreja, já vem de longa data, havendo, contudo, ainda lembrança na população de Garvão do telhado e dos Santos no altar, e ao que parece só por volta de 1942 devido a umas cheias que chegaram á Igreja, é que levaram os Santos para local seguro, ao que se conta, a imagem de São Pedro já andava a boiar na água, o que foi salvo pelo “Meia Dola”, trabalhador no Monte da Morgada, que o entregou ao Sr Júlio de Matos, pai do Sr Zeca. A imagem de São Pedro encontra-se presentemente na Igreja Matriz.

          Nos anos 50 e 60 de 1900, os dançarinos da “Dança de Garvão” costumavam utilizar esta Igreja para ensaiarem os passos da dança.

          A tradição oral, diz-nos que pela guerra civil liberal, nas décadas de 1800, pela Estrada Real passou as forças militares liberais comandadas pelo duque de Terceira, vindas do Algarve para atacar Lisboa no ano de 1833.

          Também pelas lutas liberais, esta Igreja foi refúgio das guerrilhas do Algarve, adeptos da causa absolutista, comandados pelo célebre Remexido, ainda segundo a tradição oral, foi nesta igreja que procuravam guarida depois dos ataques perpetuados pelas terras vizinhas, possivelmente beneficiando do apoio de alguns populares partidários do pretendente absolutista, D. Miguel.

          Trata-se de uma ermida de peregrinação, com arquitectura religiosa, barroca, vernacular.do século XVIII, que enfileira numa tipologia de feição popular muito divulgada no Baixo Alentejo.

          Planta longitudinal regular, composta por nave e capela-mor escalonadas e por sacristia adossada a S.. Volumes articulados, massas dispostas na horizontal. Fachada principal a E., de pano único delimitado por cunhais de cantaria; remate em empena recortada de três lanços; portal de cantaria de verga recta. Fachadas laterais cegas, de pano único em remate recto. Corpo da sacristia rasgado a E. por porta recta e restantes alçados cegos. Fachada O. de pano único, cego, delimitado por cunhais de cantaria e remate em empena. INTERIOR: nave rectangular de alçados cegos. Arco triunfal de volta perfeita antecedido por degrau. Capela-mor com nicho central em arco de volta perfeita e pequeno nicho do lado da Epístola; do lado do Evangelho rasga-se a porta de acesso à sacristia em arco de volta perfeita.[1]

 

[1] SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico

publicado por José Pereira às 18:28

22
Set 18

Sacrifício Humano no Depósito Votivo

 

          Em Garvão, a pesquisa arqueológica, desenvolvida na década de 80 do século XX, no «Cerro do Castelo», uma elevação no interior da própria vila, detectou-se, em 1982, na sua zona central, uma fossa, coberta por lajes de xisto, (que se passou a denominar por Depósito Votivo), dentro da qual se encontrava um crânio humano, separado do respectivo esqueleto e com indícios de trepanação.

          O crânio localizado na base do depósito pertenceu a uma mulher cuja idade oscilaria entre os 35 e os 40 anos (Fernandes 1986, 78). A morte foi-lhe provocada por três golpes desferidos na zona occipital e parietal por um instrumento contundente, pesado, dotado de um gume curvo pouco penetrante, que incidiu obliquamente sobre a cabeça da vítima.

          Foi assim reconstituído que a vítima se encontraria deitada em decúbito ventral, quando lhe foram desferidos sucessivamente três golpes. Qualquer um deles seria o suficiente para lhe provocar a morte, e certamente que com o primeiro deles ela entrou em lipotimia (perda de sentidos).

          A morfologia das lesões sugere que o instrumento utilizado terá sido um machado de pedra polida de que, aliás, se recolheu um exemplar no depósito (Antunes e Cunha 1986, 84-85). O crânio foi então separado do corpo; a forma como isso se deu e o espaço de tempo que mediou entre este facto e a deposição do crânio como elemento ritual na criação do depósito votivo são, no entanto, indetermináveis.

          O crânio, estava, aparentemente, associado a alguns ossos de animais o que sugere um fenómeno de libação sacralizadora associada a um sacrifício humano.1

          Deste modo, pode com efeito admitir-se a crença de que os crânios teriam propriedades maravilhosas, curativas e, consequentemente, benéficas e extensivas a todo o grupo a que pertenceriam esses indivíduos.

 

1) In: Virgílio Hipólito Correia, Algumas considerações sobre os Centros de Poder na Proto-História do Sul de Portugal, «Revista de Guimarães», volume especial, II, 1999, pp. 699-714.

publicado por José Pereira às 21:04

14
Set 18

CENTENÁRIO

“O famigerado heroi do Crime Grande da Estação do Rocio”

 

O ATENTADO

Parte 7 (de 12)

 

          Na noite de 14 de Dezembro de 1918, à frente da sua comitiva presidencial, Sidónio Pais, dirige-se para a gare na estação do Rossio. Quando a multidão o vê surgir, ovaciona-o como sempre, correm para o saudar, correm lágrimas de exaltação, soam vivas ao Sidónio, soam vivas à República Nova, soam fanfarras e toca-se o hino nacional.

          Sidónio Pais, eloquente, agradece à esquerda e agradece à direita, impecável no seu fato de major venialmente curva-se para agradecer à população que o quer agarrar, que lhe quer tocar, que o quer beijar e soa um tiro, soam mais e Sidónio Pais jaz ensanguentado nas frias lápides de pedra da estação do Rossio.

          “Morro bem… salvem a Pátria” terá escrito o jornalista Reinaldo Ferreira que chegou ao local mais de uma hora depois dos acontecimentos e já com Sidónio Pais dado como morto na morgue do Hospital de São José. O certo é que Sidónio Pais, depois de atingido, pouco mais poderia pronunciar do que um agoniante murmúrio de defunto.

          O seu funeral, tal como em vida, foi uma grande espalhafatação, uma encenação espetacular, impressionante, com meretrizes e carpideiras, convulsões e desfalecimentos, tiros, bombas, mortes e vivas desafiantes a Afonso Costa, milhares de pessoas, duzentas mil segundo a imprensa da altura, acompanharam o féretro num arrebatado percurso, pesaroso e tumultuoso, assiduamente interrompido por múltiplos e impetuosos incidentes.

          O homem providencial, o salvador da pátria, o homem espetáculo que de cima do seu cavalo envergando a farda militar cativava as massas, depois de morto, virou mártir. O povo presta-lhe culto e canta Fernando Pessoa.

          De facto eram 23 horas e 50 minutos, do dia catorze de dezembro de 1918, quando o Presidente da República, Sidónio Pais e a respectiva comitiva presidencial chegou ao hangar da Estação do Rossio para embarcar no comboio rápido para o Porto que deveria partir às 23 horas e 55 minutos, onde uma banda da GNR e a respectiva companhia faziam a guarda de Honra.

          Acompanhavam-no o filho António, seu Secretário particular, o irmão António da Silva Pais, o capitão Carneira, o alferes Bernardo de Albuquerque e Ferreira da Silva. A presença de agentes da policia preventiva e judiciária tanto no hangar e acessos como no salão da estação e nas ruas próximas era visível, suficientemente forte para dissuadir qualquer tentativa de atentado contra o presidente, formando um cordão de segurança à passagem de Sidónio Pais que se dirigia para a gare pelas portas centrais.

          Quando, no primeiro andar da estação, José Júlio da Costa, dissimulando uma pistola no capote alentejano que envergava, certificando-se, junto de um dos guardas, qual era o presidente de entre os que compunham a comitiva presidencial, furou o duplo e compacto cordão policial que o protegia, quando transpunha a quinta porta, ao mesmo tempo que disparava uma pistola.

          Sidónio Pais foi mortalmente baleado, por José Júlio da Costa, autor confesso do mortífero acto, posicionado no meio da multidão e perto das portas que dão acesso ao cais de embarque limitara-se a empurrar um dos polícias da dupla fila do cordão de segurança e a disparar a sua arma sobre Sidónio Pais que agradecia as aclamações que se ouviam dos populares que rodeavam o cordão policial, é tudo tão rápido que os policias perto de José Júlio da Costa, nem tiveram tempo de sacar das armas, agarrando imediatamente o autor dos disparos e só isso o salvou de ser logo ali morto, como o foram vários populares que se encontravam no local e foram atingidos pelas armas dos guardas, quando procuravam abrigo assim que ouviram os primeiros tiros.

          Nas palavras do próprio, “Quando na estação do Rossio o déspota marchava para a gare entre alas de polícias armados, afastei de repelão os guardas e tive Sidónio seguro na boca da minha pistola, tão certo de o abater que era convicção minha cair também ali”[1]

 

In: José Pereira Malveiro, José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio, Garvão, 2018.

 

[1] Segundo a entrevista de Manuel Ribeiro que entrevistou José Júlio da Costa na prisão, inserido no livro Sidónio Na Lenda de D. António de Albuquerque, em 1922.

603_montagem de capa copy (7).jpgClique para adquirir o livro: José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio

 

publicado por José Pereira às 01:01

09
Set 18

Sino da Câmara.jpgSino do Açougue.jpg

O Sino da Casa da Câmara e o Sino do Açougue[1]

 

          Os sinos concelhios, seja na casa da câmara, no açougue ou na cadeia, constituem um dos equipamentos concelhios simultaneamente mais úteis, mais pitorescos e mais representativos do concelho, do seu poder e da sua jurisdição.

          Tratando-se de um equipamento e de um atributo concelhio tão vinculativo, o sino estava patente em praticamente todas as antigas casas da câmara, pois ele pontuava não só a vida concelhia e os seus rituais judiciais, administrativos e celebratórios como o próprio quotidiano da comunidade de vizinhos.

          O sino da câmara assegurava tanto os toques obrigatórios da alvorada e do crepúsculo, consagrados nas Ordenações como os rebates mais dramáticos, dos desastres naturais e dos grandes acidentes aos desacatos, levantamentos (as temíveis “uniões” da Idade Média e dos Tempos Modernos) e todo o género de “arruídos” públicos em que facilmente descaíam comunidades por vezes bem carenciadas e indefesas.

          O sino era a voz do povo, pelo que o barbante ou a corda do seu badalo estava ao alcance de todos, a começar pelas crianças. Muito facilmente qualquer um o poderia accionar para avisar de um incêndio, de um perigo de afogamento, de um crime, de uma briga, de uma pendência, de um desaparecimento estranho ou de uma aparição miraculosa.

          O sino da câmara, enquanto mensageiro de boas e más notícias, tanto era uma causa do abatimento colectivo como o efusivo agente das epifanias mais radiosas. Mas, enquanto voz, ou melhor, enquanto “clamor” dos povos, o sino da câmara era também um agente de revolta, materializado no “tocsin” da tradição urbana francesa, no rebate desesperado de incitamento à luta, à revolta e à defenestração descontrolada de pessoas e bens.

          “Toca-se por toda a parte a rebate nas sinetas dos Campanários” – lê-se em certo Memorial anónimo de 1867[2], relatando a revolta das populações de concelhos alentejanos da zona de Castro Verde ameaçados de extinção no âmbito do processo de “arredondamento dos concelhos”.

          Em pleno processo de implantação do Liberalismo, no momento em que se processa o arrolamento e a venda dos bens dos conventos extintos, por toda a parte as câmaras cobiçam os sinos das respectivas igrejas, pois os mesmos continuam a ser um equipamento concelhio indispensável. A sua presença apagou-se muito entre nós a partir do Liberalismo, enquanto símbolo do poder concelhio.

 

In: CAETANO, Carlos Manuel Ferreira – As Casas da Câmara dos Concelhos Portugueses e a Monumentalização do Poder Local (Séculos XIV a XVIII). Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2011. Dissertação de Doutoramento em História da Arte Moderna.

 

[1] O Sino do Açougue encontra-se presentemente nas instalações da Junta de freguesia à espera de ser colocado no seu devido lugar

[2] Memorial anónimo relativo dirigido à Junta Geral do Distrito de Beja sobre o arrendondamento dos Concelhos da região de Castro Verde, Ourique e Almodôvar, defendendo a “capitalidade” de Castro Verde; N. ass., não datado; mas datável de 1867, in IAN-TT – Ministério do Reino – Negócios diversos relativos à divisão territorial [ano de 1867] – Maço 3148 – Distrito de Beja; em itálico no original.

 

 

publicado por José Pereira às 12:44

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