27
Mai 18

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 BRASÃO 

          No livro Garvão – Herança Histórica, de 1993, (p. 66), sobre o Brasão da Casa da Câmara de Garvão, consta: “ainda em 1992, aquando da caiação da Casa da Câmara, o brasão foi pura e simplesmente caiado por cima como se não existisse. Contudo, a sua maior mutilação ocorreu pela implantação da república, em 1910, quando um fervoroso republicano de nome Caetano Rosa, armado de escopro e martelo, começou por danificar o brasão e mais não destruiu porque alguém, adepto da monarquia, lhe tirou a escada onde se encontrava empoleirado.

          Acontecimento este relato pelo antigo regedor da Freguesia de Garvão, Francisco Zacarias, ao autor do mencionado livro.

          Contudo, agora pela mão do Professor António Martins Quaresma, no jornal do Sudoeste de 16/11/2017, relata outro acontecimento sobre a danificação do referido brasão.

          Segundo informação do saudoso Joaquim Maurício da Conceição Rosa, presidente da Junta de Freguesia de Vale de Santiago pós vinte e cinco de Abril, existe outra personagem que procedeu, igualmente, à sua mutilação, desta vez o próprio avô de Joaquim Maurício.

 

          Outra história que ele gostava de contar tinha como protagonista o seu avô, Jacinto Pereira Rosa, fervoroso republicano, que ajudado por um maquinista dos comboios, decidiu, após a implantação da República, picar a pedra de armas existente na frontaria do edifício da antiga Câmara de Garvão (então escola), por a considerar incompatível com a nova situação política. Criticado pelo governador civil de Beja, do Partido Unionista, que o admoestou por ele ter destruído uma obra tão antiga, o avô do Maurício respondeu que também a monarquia era antiga e tinha sido, muito felizmente, deitada abaixo. Face à lógica da resposta, o governador civil embatocou. Hoje, continuamos a ver a pedra de armas picada, na parede da Junta de Freguesia de Garvão, e lamentamos um pouco o seu arrebatamento, próprio dos tempos que então corriam.

 

           O Brasão da Câmara de Garvão, como se hoje pode observar na frontaria dos antigos Paços do Concelho, segundo Carlos Manuel Ferreira Caetano,[1] provavelmente será de origem seiscentista e teria sido realizado utilizando a velha técnica do esgrafito que consistia na aplicação sobre uma base de estuque, barro, cal ou cimento, de uma camada de tinta branca que seria posteriormente raspada com um estilete, ou mesmo com um garfo de ferro na forma que se desejava.

            A cor da base, constituindo o fundo do desenho, ficava assim exposta em contraste com o branco do resto do brasão. Realizados em materiais brandos e de fácil modelação, os brasões em estuque ou em esgrafito parece terem sido sempre rodeados de ornatos de gosto ora mais erudito, ora mais popular e podem ter sido usados em muitas zonas do país e não apenas nas regiões de cal abundante.[2]

 

 

[1] In: CAETANO, Carlos Manuel Ferreira – As Casas da Câmara dos Concelhos Portugueses e a Monumentalização do Poder Local (Séculos XIV a XVIII). Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2011. Dissertação de Doutoramento em História da Arte Moderna. P. 497.

[2] Idem, ibidem.

publicado por José Pereira Malveiro às 21:04

14
Mai 18

CENTENÁRIO

“O famigerado heroi do Crime Grande da Estação do Rocio”

Na Rotunda Pela Implantação da Republica

Parte 3 (de 12)

 

          Como se observou, pela Implantação da República, em cinco de Outubro de 1910, José Júlio da Costa está ao lado de Machado Santos na Rotunda. Ainda com dezasseis anos de idade, é um dos primeiros a lutar pela revolução republicana, mesmo quando esta já se dava como perdida, levando ao suicídio do Almirante Cândido dos Reis, chefe militar da rebelião, José Júlio da Costa permanece fiel à revolução, junto das forças Carbonárias que lutaram até ao triunfo da República sob o comando de Machado Santos.

          Ao jovem José Júlio da Costa esta participação na implantação da República ao lado de Machado Santos, com os dramas que daí ocorreram, nomeadamente o suicídio do carbonário almirante Cândido dos Reis, quando julgava a causa perdida, terá pesado fortemente na sua formação politica e moldado não só o seu percurso politico mas igualmente os seus heróis.

          O percurso militar de José Júlio da Costa levou-o a Timor em 1911, como voluntário para combater a rebelião das forças do reino de Manufahi que se sublevaram nos finais de 1911, voluntariou-se igualmente para Moçambique e Angola, em 1914, para combater os alemães, o que lhe valeu um louvor em 27 de Dezembro desse mesmo ano, mencionando, na sua folha de serviços, o seu “grande patriotismo e boa vontade de desempenho de todos os serviços que era encarregado”, pelo seu cumprimento na batalha de Naulila[1], em 18 de Dezembro de 1914 entre  portugueses  e  alemães  no Sul de Angola.

          Segundo Augusto Casimiro autor de Naulila, publicação de 1922,Ao romper da manhã estava o Barão Von Water a oito quilómetros deste posto esperando as 4,3º, e supondo-se em frente do flanco direito das nossas posições. Reconhece o erro. Está em Nangula e tem na sua frente apenas os landins do pelotão de Losa, a secção que o sargento José Júlio da Costa comanda, de guarda ao vau. Trocam-se tiros.”[2] José Júlio da Costa, com 21 anos, seria sargento do pelotão da 15ª Companhia de Moçambique, comandada pelo Alferes Gonçalves Losa, composta por tropas africanas denominadas Landins[3] e enviados para Angola.[4]

          Com o posto de Segundo-Sargento, passa à vida civil dois anos depois, em 11 de Abril de 1916, com vinte e três anos, tendo por esta altura regressado a Garvão, sem primeiro, contudo, deixar de passar pela embaixada francesa, onde se ofereceu como voluntario, para combater na Grande Guerra contra os alemães, muito antes da constituição do Corpo Expedicionário Português, e do envio dos militares portugueses para França em 30 de Janeiro de 1917, o que não conseguiu por não ter passaporte. Voluntariou-se igualmente para o CEP, durante a constituição deste, o que foi também recusado.

 

[1] Incidente militar no Sul de Angola onde uma pequena força alemã  entrou  em  território  angolano na perseguição de um desertor. Apesar dos alemães se apresentarem pacificamente e aceitarem serem conduzidos ao posto de Naulila por um pequeno destacamento militar português, gerou-se uma certa confusão quando os militares alemães se tentaram retirar, provocando uma reacção violenta por parte dos militares portugueses que levou à morte dos oficiais alemães. Considerada uma “emboscada” pelos alemães que precisava de ser vingada. Na retaliação que se seguiu as tropas Alemãs, em Dezembro de 1914, ocupam Naulila tendo as tropas portuguesas de recuar para Humbe, provocando a morte de dois oficiais, um sargento, cinco soldados e cabos portugueses e vários africanos.

[2] Augusto Casimiro, Naulila, 1922, Lisboa. P. 175.

[3] Os Landins ou Vátuas eram tropas africanas com ligações guerreiras ao célebre Gungunhana, derrotado pelas tropas portuguesas e emprisionado por Mouzinho de Albuquerque em 1895.

[4] Com a data de 5 de Julho de 1930, Armando Agatão Lança, envia a Bernardino Machado uma carta onde refere, “ - V. Ex.cia, em tempos perguntou-me em que companhia tinha servido na guerra do sul de Angola o José Júlio da Costa. Serviu na 15ª companhia indígena”. 

 

In: José Pereira Malveiro, José Júlio da Costa - O Famigerado Herói do Crime Grande da Estação do Rocio, Garvão, 2018

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publicado por José Pereira Malveiro às 09:20

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