Ó Laurinda Linda Linda
Tem desenvolvido o jornal de Garvão a temática do relacionamento inter-cultural entre várias sociedades, nomeadamente a similaridade entre a denominada “Dança de Garvão”, evidenciada na Dança do Mastro, Dança dos Arquinhos ou na Dança das Voltas, com outras danças que se observam em várias partes da Europa, nomeadamente aquelas de influência Celta e a Dança dos Morris na Inglaterra, cujos paralelismos se encontram igualmente nesta zona do Alentejo, evidenciada nas Danças das Espadas e dos Guizos.
Não deixa, também, de se poder confrontar outras manifestações culturais, cujas similaridades, nos revertem para a mesma origem inter-europeia, sejam elas na área da dança, na área da música, ou inclusivamente, na área da poesia popular.
Se esta semelhança se observa na área da música e da poesia, uma dessas canções é a denominada, "Ò Laurinda, Linda, Linda", originária da zona de Monchique e que consta da recolha nacional, para a RTP e amplamente difundida, efetuada por Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça, em 1962, no monte da Casa Velha, Alferce. A partir desta divulgação, o intérprete de música popular alentejana, Vitorino, também a divulgou, apesar de, inexplicavelmente, ter substituido “Feira de Garvão”, por “Feira de Marvão”, à revelia da história original desta música, da sua origem, do contexto social que a originou e da proximidade entre Monchique e Garvão
Sobre o paralelismo com outras regiões, não deixa de ser interessante o artigo, abaixo descrito, de José Joaquim Dias Marques da Universidade do Algarve, sobre a similaridade entre a cantiga popular, “Ó Laurinda, Linda, Linda”, a qual descreve as imaginativas respostas da esposa adúltera, que dá título á cantiga, quando o marido regressa da feira de Garvão e a cantiga escocesa “Our Goodman” e a irlandesa, “Seven Drunken Nights”, numa situação igual, em que o marido bêbado, confronta a esposa numa situação de infidelidade.
“A balada portuguesa Laurinda e a balada escocesa Our Goodman pertencem a um grupo de baladas existentes em muitos países europeus que estão sem dúvida geneticamente relacionadas.
A base de todas elas é o tema da mulher adúltera e esperta, surpreendida quase em flagrante pelo marido quando este volta de viagem. Este tema é desenvolvido através duma série de perguntas do marido sobre peças de roupa ou outros objectos que ele inesperadamente encontra ao regressar a casa e através duma série de respostas imaginativas da mulher, tentando escapar a ser desmascarada.
Embora contem a mesma história, estas baladas apresentam diferenças próprias dos textos da tradição oral. A balada escocesa aborda o tema do adultério de modo meio cómico, fazendo com que o marido regresse a casa bêbado e dando à história um final aberto, que poderá ser visto como um final feliz ou, pelo menos, sem conflito.
Por seu lado, a balada portuguesa leva o tema muito a sério, terminando a história com a decisão do marido de se separar da adúltera. Nalgumas versões da balada portuguesa, o marido diz mesmo que irá devolver a adúltera ao pai dela, “para que ele veja a mulher que me entregou”.
Repare-se, de qualquer modo, como estas baladas mostram um entendimento igual da questão do adultério: o problema está no adultério da mulher, pois é a mulher que a sociedade vê como devendo ser fiel. Pelo contrário, nos textos orais não costuma aparecer (ou aparece muito, muito raramente) a questão da fidelidade do marido, parecendo encarar-se o adultério masculino como algo desculpável e, até, natural."
José Joaquim Dias Marques (Universidade do Algarve)
http://seeingstories.eu/index.php/bridges-lisbon-edinburgh
https://www.youtube.com/watch?v=FP7VsdIX5D0
https://www.youtube.com/watch?v=1it7BP5PckIhttps://
www.youtube.com/watch?v=3hmBxZzbkXI
https://www.youtube.com/watch?v=72JMVvF-EYQ
OBSERVAÇÃO: Ao visualizar as músicas através dos links acima reproduzidos ter em atenção que o vídeo de "Laurinda, linda, linda" está trocado com o video de "A confissão da virgem".
Laurinda Linda Linda
-Ó Laurinda, linda, linda!
-Sim, sim, cavalheiro, sim! Hoje sim, amanhã não. Meu marido não está cá
-Onze horas, meia-noite
-Ou ela está doentinha
-De quem é este chapéu
-De quem é este casaco
-De quem é este cavalo
-De quem é este suspiro
-Ó Laurinha, linda, linda
-Vai buscar as tuas irmãs! | Seven Drunken Nights
Segunda-feira cheguei a casa
-Ó meu grande borrachão!
Terça-feira cheguei a casa
Ó meu grande borrachão!
Quarta-feira cheguei a casa
-Ó meu grande borrachão!
Quinta-feira cheguei a casa
-Ó meu grande borrachão!
Sexta-feira cheguei a casa
-Ó meu grande borrachão |