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Jan 16

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   O “Cerro do Castelo” em Garvão é uma elevação de topo aplanado com uma cota máxima de 124,5m, encaixada entre duas linhas de água, afluentes do Sado.
          Na parte média da encosta Leste do cerro, foi localizado em 1982 um grande depósito secundário de peças votivas. Para a instalação deste depósito, foi aberta na encosta uma fossa de planta irregular, grosseiramente ovalada, com 10 por 5m cuja abertura parece ter aproveitado um estreito patamar da encosta do cerro. A parte central desta fossa foi grosseiramente coberta por lajes de xisto entre as quais se produziu um dos achados mais interessantes da escavação: um crânio humano destacado do restante esqueleto, a que voltaremos.
          Sobre o nível de fundação do depósito foram colocados grandes contentores de cerâmica, produzidos manualmente, cheios de outras peças cerâmicas, cuidadosamente empilhadas. Os espaços entre estes contentores e entre eles e a margem da fossa foram também preenchidos por peças cerâmicas empilhadas. Por último algumas peças foram ainda depositadas sobre todo este conjunto, chegando, ou originalmente ou por força da acção da sedimentação das terras, a sair ligeiramente da fossa, e foram por sua vez cobertas por blocos de xisto (Beirão et al. 1985, 56-60 e 94-103).
          Parece certo que, no topo do Cerro do Castelo de Garvão, existiu o santuário a que o depósito secundário corresponde. Tal santuário faria parte de um povoado de origem antiga e de longa sobrevivência. As cronologias mais antigas para o povoado de Garvão são dadas pelas cerâmicas do Bronze Final recolhidas à superfície e na escavação dos níveis arqueológicos subjacentes ao depósito (camadas 7 e 9 da escavação de 1982/3: Beirão et al. 1985, 59-60), a este período se associando um molde de fundição de armas de bronze. A sobrevivência para além da Idade do Ferro e até ao período romano está documentada por achados numismáticos (Dias e Coelho 1977, nº 1) e por estruturas templares do período romano com as quais se relacionariam duas colunas de mármore recolhidas na vila (Beirão et al. 1985, 49, Correia 1996c).
          Recentemente, a extensão do povoado da Idade do Ferro pôde ser precisada, graças a escavações levadas a cabo na plataforma a Sul do Cerro do Castelo, que permitiram identificar uma muralha e fosso que parecem ter delimitado o povado, bem como uma pequena área industrial, onde se identificou um forno atribuível à Idade do Ferro. A extensão da área do povoado pode ser estimada em cerca de 6 hectares, tornando provável que tenha sido um núcleo populacional de carácter propriamente urbano (Correia 1995, 250 n. 3).
         Estamos assim perante uma eloquente demonstração da forma como um povoado nucleado, ainda que suficientemente modesto para nos fazer hesitar antes de o classificar como cidade, concentrava no seu perímetro, para além do efectivo demográfico, que poderia roçar os dois milhares de habitantes, e da competência artesanal e tecnológica que lhe estava associada, outras vertentes de nucleação do território e entre elas a religiosa, obviamente.

In: “Algumas considerações sobre os centros de poder na Proto-história do Sul de Portugal”. Virgílio Hipólito Correia, Revista de Guimarães, Volume Especial, II, Guimarães, 1999, pp. 699-714

publicado por José Pereira Malveiro às 21:55

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