A origem da carne de Porco á alentejana, assim como outros pratos típicos, poderá ter diversas interpretações, lendas e histórias, mas convém analisarmos e interpretamos a origem destes cozinhados tipicamente portugueses numa base histórico/cultural, e o que a história e cultura nos diz, (arqueologia e estudo dos alimentos antigos), é que de facto o consumo de carne de porco no Alentejo chegou tardiamente e só se generalizou depois da conversão forçada das populações não-cristãs em 1495 pelo rei D. Manuel, (Judeus e Muçulmanos cuja religião os proibia de consumo de tal alimento).
A carne de Porco á alentejana assim como as alheiras de Mirandela ficaram, devido a certas características, associados a estas duas regiões apesar de terem sido amplamente confecionadas praticamente de norte a sul do país.
Ambas têm a mesma história e origem, ou seja o consumo e/ou simulação de carne de porco pelas populações Muçulmanas e Judias que resolveram ficar em Portugal, depois do édito de expulsão, e se converteram ou simulavam a sua conversão ao cristianismo.
Assim, no caso das alheiras, (enchidos em que em vez da carne e gordura de porco, proibida pela lei Judaica e muçulmana, eram feitas com as carnes que houvesse à mão, nomeadamente de coelho, perdiz, pato, peru, galinha e vitela, acrescentava-se o miolo de pão e o caldo proveniente das carnes, temperava-se com alho, sal, pimenta ou piri-piri), estas populações não cristãs simulavam fidelidade à religião cristã com estes enchidos pendurados no chupão, enganavam os fiscais da Inquisição e os vizinhos, que pensavam que eram enchidos de carne de porco, obedecendo assim à proibição Judaica de consumo de carne de porco.
Quanto á carne de porco alentejana, tratava-se de facto de um consumo não simulado por estas populações em que para se livrarem da suspeita e da respetiva denúncia á inquisição passaram a consumir tal carne de forma mais visível, criando o porco no curral á vista da restante população, matando o porco em locais públicos, na rua e no largo, convidando os vizinhos á matança, acompanhados sempre de um bom petisco, distribuindo, inclusivamente, nacos de carne fresca aos vizinhos e a provarem os primeiros enchidos depois de curados.
Assim a tradição alentejana de criação anual do porco no curral, a matança do porco na rua, a distribuição de carne fresca de porco aos vizinhos, principalmente aqueles que não assistiram á matança teria tido as suas origens na necessidade de visibilidade entre estas comunidades e o consumo de carne de porco.
Quanto à carne de porco com ameijoas, sendo a alimentação do porco alentejano á base de produtos naturas, (ervas, bolotas, milho, farelos dos moinhos etc.) o que lhe dá, ainda hoje, um gosto especial, permite-lhe uma certa diversificação na confeição dos vários pratos alentejanos, tanto acompanhado á mesa dos menos abastados com pão demolhado, (as famosas migas), como dos mais abastados com ameijoas.