22
Jan 12

    

                Não deixa de ser ainda hoje uma imponente figura que se recorta no horizonte e desperta curiosidades e interesses. O Moinho do Sr Chico Félix, como presentemente ainda o denominamos, há já muito que os ventos da erosão deformam as suas paredes e a taipa cobre o chão do que outrora foi o adro de velas, das varas e cabrestos presos com nó de barqueiro ou nó de porco.    

                Também, já não se ouve os brados do moleiro, ou a vela direita desfraldada a anunciar a falta de vento, ou desfraldada à esquerda a anunciar a recolha da farinha, não terá havido, com certeza, as velas em cruz a anunciar a morte do último Moleiro.

                Entre a Torre e o Capelo, o Mastro, Entrosca e Carreto: Mós e Tegão; o canto dos búzios; as cordas de armar; as velas latinas, garganta, valuma e esteira, (e o nó de barqueiro), a lembrar terra de marinheiros, terá o último Moleiro carregado os últimos grãos de almocreves e seareiros, raçoeiros e quintaneiros, entre maquias e comedias, entre carroças e carros, carretas e cangalhas de um só dorso, terá esbranquiçado os últimos cabelos, senão da idade certamente de farelos e farinha.

                Muitos outros moinhos haveria em Garvão entre Moinhos de Vento, de Água ou Atafonas movidas a sangue, (bestas, cavalos, éguas e burros), de que um dia se fará história, destaca-se o moinho do Morgado ou do Madeira e o moinho de Lazaro Soares, conforme consta no “Livro “da Misericórdia e do Sagrado Espírito Santo”, nos anos de 1769 e 1829 respectivamente.

 

Farrejal ao Pégo do Limaõ afl _  67

Foro de hum farrejal sito nos coutos desta villa ao pego do Limaõ (...) o qual se achava murado de Taipa e posto de vinha aforado a Miguel Lopes, filho do primeiro empossado Manoel Lopes, desta villa por dois alqueires de trigo, (...) no anno de mil sete centos vos digo sete centos sesenta e nove annos semdo aos sinco dias do mez de Julho (...) o qual parte com outro farrejal da Coroa que he da capela do Anal e com outro farrejal de Dom Miguel Maldonado e com a estrada que vem para a villa do muinho do Morgado que chamaõ do Madeira.

 

Escriptura de Renovaçaõ de juro fatuezim e reconhecimtº de direito Senhorio Luiz Dias Bravo, e sua mer da Horta de Val de Guilherme afl _ 131

Traslado d'Escriptura de Renovaçaõ de fôro fatuezim, e Reconhecimento de Direito Senhorio, que fazem Luiz Dias Bravo, e sua mulher (...) no anno de mil outo centos vinte nove, aos vinte quatro de Fevereiro (...) Luiz Dias Bravo morador na Villa d'Ourique por si, e como Procurador, que mostrou ser de sua mulher Dona Maria Francisca Aurellia Contreiras, elles se achaõ Senhores, e Possuidores da Posse, e Dominio Útil da Horta de Vale Guilherme, ou do Claro, (...) sita no Couto desta Villa, que houveraõ por titulo d'herança de seus Antepassados, parte o dito farrejal pela estrada ao pé do moinho de lazaro Soares da parte do Poente, tomando pela parte do Norte pela estrada que vai para a Crata virando para o Nascente parte com terras do Conselho até á altura digo para a Crata, virando para o Nascente parte com terras do Conselho té á altura, e virando aguas vertentes abaixo parte com terras de Dom Miguel Maldonado a dar á estrada aonde principia a primeira confrontaçaõ.

publicado por José Pereira Malveiro às 17:05

20
Jan 12

    

 

             José Augusto Baião, de sua graça, nasceu em 1934. Portanto 77 anos de idade como pedreiro, podador de sobreiros e agora reformado “vai já para 16 ou 17 anos”, como gosta de salientar dedica-se à arte de trabalhar madeira.

 

             A viver na Sardoa, “mesmo diante da Praça de toiros e da feira” como continua a realçar, começou na brincadeira a fazer uma coisa para um e outra coisa para outro, “e começaram a achar muita graça” e hoje vem um gosta de uma coisa amanhã vem outro e gosta doutra e atrás das colheres de pau, umas grandes, outras pequenas vieram os bonecos, carroças e animais, “e olhe hoje é o que se vê”.

             De faquinha, sempre amolada, numa mão, um pedaço de choupo ou chorão noutra, “sabe são madeiras macias, o azinho é mais trabalhoso e racha”, seja na taberna da Man’ela, no mocho de pau ao sol, ou à espera da S’nhorª Doutorª” em menos de nada, com aparas para a esquerda e raspas para a direita sai uma minúscula cadeira, tão minúscula que até a faquinha parece que se ajeita para realçar os contornos das pernas, só lhe falta o assento de bunho.

            Entre colheres de pau, bonecos e bonecas, carros e carroças, animais e outros não tanto animais de vários tamanhos e feitios, ao sol ou à sombra, sentado no mocho de pau ou no madeiro, José Augusto Baião, na Sardoa, continuará a trabalhar o choupo a que a faquinha, amolada, vai dando corpo.

publicado por José Pereira Malveiro às 21:52

Plano e Estratégia de Implementação

 

O processo de desenvolvimento local, é um esforço contínuo e organizado por parte da população, no sentido de não só reconhecer os vários problemas que os afectam e de identificar e aspirações viáveis, mas igualmente de criar e formular as respectivas estratégias para os abordar, implementá-los e avaliar os resultados, numa lógica de participação, onde a mudança e a renovação são o âmago e o êxito dessa comunidade.

                Exigem esforço constante para encontrar novas formas de atender às necessidades dos cidadãos. O processo de desenvolvimento local é um diálogo constante entre os residentes de um local — as autoridades, as organizações cívicas, os grupos comunitários, os dirigentes empresariais e outras pessoas — visando procurar sistematicamente uma melhor qualidade de vida para todos.

                A estratégia de implementação de um Plano de Desenvolvimento Local, resulta de uma intervenção e convergência de experiências e expectativas que um conjunto diversificado de parceiros envolvidos, transporta para o seio do debate e análise deste assunto.

                A informação e o conjunto de ideias e propostas no Plano de Desenvolvimento Local, não são produção exclusiva nem de uma entidade, nem de um indivíduo, antes sim de uma multiplicidade de contributos construídos e transmitidos ao longo de um percurso.

                - O abandono da população jovem.

                - O envelhecimento progressivo da população.

                - A baixa qualificação dos recursos humanos.

                - A fragilidade do tecido produtivo agro-florestal.

                - A reduzida capacidade de iniciativa empresarial.

                - Os problemas de natureza ambiental.

                - A desidentificação das pessoas com o território.

                - A importância de alguns recursos locais bastante subaproveitados.

                São alguns dos aspectos que constituem a base de ponderação e a partir da qual se deve construír o Plano de Desenvolvimento Local.

               

            A fixação da população jovem

                A fixação da população jovem, surge como um objectivo final, pela importância de que se reveste para o futuro do território e, deve ser assumido pelo conjunto dos parceiros envolvidos.

                - O decréscimo da população no território, a baixa taxa de natalidade.

                - O envelhecimento da população.

                - A migração da população jovem em idade activa.

                -A baixa qualificação dos recursos humanos.

                - A reduzida capacidade de investimento.

                Constituem, de facto, aspectos que preocupam bastante quem, localmente, se preocupa e realiza um esforço no sentido de alertar a população para este trauma e evitar o êxodo rural.

                 A articulação deste objectivo com o da dinamização da economia local constituem um pilar estruturante do Plano de Desenvolvimento Local.

               

                O reforço da identidade local

                Todo o conjunto de aspectos que caracterizavam o meio rural no nosso território tem sido consecutivamente colocado em causa:

                - A alteração dos ritmos de trabalho.

                - A alteração da paisagem.

                - A redução drástica das actividade agrícolas.

                - A deslocação da população em idade activa para outros sectores de actividade.

                -As inúmeras construções tanto de habitações como de outras infra-estruturas.

                - O abandono de algumas aldeias.

                - A pressão demográfica nos grandes centros urbanos.

                - O abandono de práticas ancestrais de produção dos produtos e bens essenciais (pão, enchidos, panos de linho e estopa, lavra da terra, moagem, etc.).

                - A introdução de rotinas e de hábitos de consumo urbanos, criaram uma cisão nos factores de identificação da população (sobretudo da mais jovem) com o território.

                No entanto esta é uma realidade demasiado presente e importante para se ignorar! Resumidamente, por este conjunto de razões considerámos fundamental trabalhar a questão da identidade do território pelo impacto que esta questão poderá ter na fixação da população jovem, pelo impacto positivo que poderá ter no reforço da atractividade do território e pelo efeito que poderá ter na qualidade de vida destas populações;

 

                A valorização dos recursos locais

                 Surge como uma questão também crucial para a prossecução do objectivo geral do Plano de Desenvolvimento Local. O território e as suas gentes olham pouco crentes para o valor que alguns dos seus recursos poderão representar para a melhoria da sua qualidade de vida. No entanto, a valorização dos recursos locais poderão representar oportunidades de investimento, de criação de emprego, de uma ocupação dos tempos livres com qualidade e significar em última análise um território competitivo. Os produtos agrícolas,  florestais, minerais e outros como a gastronomia, o mobiliário e o restauro, a paisagem, o património natural e histórico-cultural, as albufeiras, os  recursos hídricos, as águas termais, são alguns dos recursos nos quais se considera fundamental uma intervenção local.

               

                A dinamização da economia local

                Constitui-se como um aspecto crucial no sentido de promover, também economicamente o território, atribuindo-lhe a auto-sustentabilidade que lhe garanta alguma autonomia face ao exterior. A dinamização da economia local surge intimamente associada à fixação da população jovem e à formação e qualificação dos recursos humanos locais.

 

Os procedimentos operacionais referentes à implementação deste Plano de Desenvolvimento Local, assumem grande relevância na medida em que a estratégia definida, assenta largamente num objectivo central de animação local do território, significa isto que estamos a falar de actividades que requerem a presença permanente e eficaz de uma equipa cujas principais tarefas serão exactamente as de gestão, implementação e de animação local do conjunto de acções previstas.

 

FONTE:  ADICES – Associação de Desenvolvimento de Iniciativas Culturais, Sociais e Económicas.

publicado por José Pereira Malveiro às 13:00

18
Jan 12

Mais do que reacção

É preciso acção

 

Garvão é como um muro, (mais do que da vergonha será, sem dúvida, das lamentações), onde na busca efémera de protagonismo choramos a nossa agonia.

As reacções são, na maior parte dos casos, extrapolações instantâneas que nos acodem momentaneamente, como uma oportunidade que se não pode perder.

É a busca das emoções ocasionais, sem planeamento, sem lugar ao contraditório. Não se criam, não se prevêem, nem muito menos se acautelam, pura e simplesmente aproveitam-se.

Sem, de facto, muro visível para tal enfática expressão, tal vocação carpideira procurará encontrar na vontade da população a força catalisadora e mobilizadora da sua oposição.

Resquícios caciqueiros locais, (ou talvez não), em última analise será, de facto, o grande responsável pelo subdesenvolvimento: que é como quem diz, sem união, sem diálogo, sem participação não há progresso.

E em não havendo progresso haverá, obviamente estagnação, retrocesso.

A participação institucional, mais do que uma obrigação facciosa, imposta, a copiar em nome de uma plutocracia citadina, (senão em riqueza pelo menos em influência), em que as discrepâncias entre centros e periferias são cada vês mais díspares, acarretará a longo prazo, (ou não muito longo), consequências nefastas para o desenvolvimento local e a respectiva manutenção de um mínimo populacional que não sejam mais do que um mero reflexo de glórias idas. 

Participação activa! Voluntária! Claro, é o que se vê, vejam-se as festas, vejam-se os festejos carnavalescos ou pascoais, vejam-se as restantes associações e colectividades que proliferam na freguesia, e nunca são demais, porque a participação comunitária, (vilã, não europeia), nunca poderá ser encarada como uma ameaça, mas como uma prova da participação e vitalidade da sua população. 

A participação “legal”, a formação de uma comissão com um objectivo especifico, a promoção de um evento que dignifique a freguesia pelos eleitos institucionais, parece estar arredado dessas mesmas obrigações legais, …? E, obviamente e em última analise será sempre uma subtracção a um entendimento colectivo e ao desempenho local doutros melhores habilitados.

Prepotentemente e “orgulhosamente sós”, próprios de regimes autocráticos de funesta memória, em defesa da não divisão dos louros, também, não surtirá os efeitos populacionais desejados. Mais do que uma luta ímpia, votada ao fracasso, mais do que um agitar de emoções, mais do que necessidade efémera de protagonismo, mais do que tudo isto é, obviamente, a futilidade de tudo isso.

publicado por José Pereira Malveiro às 00:08

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