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Nov 11

 

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO TOPOGRÁFICA

 

A Proposta de Implantação da Muralha de Garvão resulta de um trabalho científico em âmbito universitário, que tinha em vista a posteriori a sua apresentação no Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular deste ano, em Almodôvar, mas por motivos maiores não foi possível realizar.

Deixo aqui às pessoas curiosas da história, um pouco como era Garvão há cerca de 2500 anos atrás.

Pretendemos dar a conhecer com o estudo sobre os cerros de Garvão, com vista ao traçado hipotético da muralha que delimitou o espaço correspondente ao povoado ali existente na Idade do Ferro (área interior estimada em 5/6 hectares), que urge aferir arqueologicamente, tendo em conta o carácter especial daquele local, associado a um dos grandes centros da espiritualidade proto-histórica do Sudoeste peninsular, dado a conhecer por Caetano Mello Beirão e colaboradores em 1985.

Duas colinas de topo aplanado, o Cerro da Vila e o Cerro do Forte, situados na fértil várzea (terrenos de classe A) onde confluem as Ribeiras de Garvão e de S. Martinho, constituem, desde a Idade do Ferro, um local de passagem incontornável das grandes rotas, charneira entre o acesso aos portos atlânticos e as vias de ligação ao mundo mediterrânico, bem como à área celtizante com desenvolvimento para Nordeste. Professor Jubilado da Universidade de Coimbra, Jorge de Alarcão, defende tratar-se de um dos pontos de paragem mediando Alcácer do Sal e Mértola na jornada entre o estuário do Sado e Tartessos, mencionada por Estrabão(?). Esta conjuntura, onde os indícios de assentamento humano mais antigo são atribuíveis à Idade do Bronze Final, foi determinante para o estabelecimento do santuário da II Idade do Ferro e para o desenvolvimento do povoado.

A fortificação em estudo circunda o topo dos cerros, vencendo a depressão que os separa e estende-se, numa segunda linha, junto à zona ribeirinha, a Sudeste. Caracteriza-se pelo desenvolvimento em volume, mas também aproveitando afloramentos rochosos que ocorrem nas encostas abruptas. Actualmente, encontra-se camuflada pelo seu próprio derrube e pela consolidação do solo sobre o mesmo; em alguns segmentos foi destruída pela acção humana, na sequência do desenvolvimento da povoação.

A planta proposta constitui uma primeira hipótese de implantação da muralha, resultante da análise da topografia, interpretação das anomalias no terreno e informação das intervenções arqueológicas realizadas que abrangeram alguns troços, nomeadamente por Teresa Ricou, em 2002, em que se expôs um com cerca de 2.60 metros de espessura, a Sudeste do Cerro da Vila, associado a níveis estratigráficos da Idade do Ferro. Indícios da fortificação materializam-se em anomalias topográficas (interpretação da cartografia de pormenor e fotografia aérea), no reaproveitamento de pedras resultantes da desmontagem da muralha em muros de sustentação e outras construções, que parecem ter transportado para a actual malha urbana condicionantes herdadas, por hipótese, da Idade do Ferro.

Apontam-se, ainda, prováveis acessos e sistemas de entrada no interior do recinto fortificado, nomeadamente na zona baixa entre cerros, levando em consideração o importante peso da tradição oral de Garvão, onde a memória dos caminhos está fortemente preservada, em resultado do carácter de passagem e de romarias.

A abordagem topográfica detectou ainda, no sector da vertente voltada a Norte do Cerro do Forte, fortes marcas de modelação arcaica da encosta, em taludes, constituindo patamares ligados por rampas, onde abunda material atribuível às II e III Idades do Ferro (Romanização), nomeadamente cerâmica estampilhada e formas de Campaniense A (copias mais toscas da cerâmica Grega) . Aquela modelação do relevo, por hipótese associada ao santuário, de acordo com uma estimulante proposta defendida por Amílcar Guerra e colaboradores para o santuário de Endovélico, revela uma preocupação clara com a função religiosa, que deve ter desempenhado um importante papel na configuração da própria fortificação.

 

JOSÉ DANIEL MALVEIRO

CARLOS DUARTE SIMÕES

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa

publicado por José Pereira Malveiro às 00:28

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