07
Nov 11

 

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO TOPOGRÁFICA

 

A Proposta de Implantação da Muralha de Garvão resulta de um trabalho científico em âmbito universitário, que tinha em vista a posteriori a sua apresentação no Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular deste ano, em Almodôvar, mas por motivos maiores não foi possível realizar.

Deixo aqui às pessoas curiosas da história, um pouco como era Garvão há cerca de 2500 anos atrás.

Pretendemos dar a conhecer com o estudo sobre os cerros de Garvão, com vista ao traçado hipotético da muralha que delimitou o espaço correspondente ao povoado ali existente na Idade do Ferro (área interior estimada em 5/6 hectares), que urge aferir arqueologicamente, tendo em conta o carácter especial daquele local, associado a um dos grandes centros da espiritualidade proto-histórica do Sudoeste peninsular, dado a conhecer por Caetano Mello Beirão e colaboradores em 1985.

Duas colinas de topo aplanado, o Cerro da Vila e o Cerro do Forte, situados na fértil várzea (terrenos de classe A) onde confluem as Ribeiras de Garvão e de S. Martinho, constituem, desde a Idade do Ferro, um local de passagem incontornável das grandes rotas, charneira entre o acesso aos portos atlânticos e as vias de ligação ao mundo mediterrânico, bem como à área celtizante com desenvolvimento para Nordeste. Professor Jubilado da Universidade de Coimbra, Jorge de Alarcão, defende tratar-se de um dos pontos de paragem mediando Alcácer do Sal e Mértola na jornada entre o estuário do Sado e Tartessos, mencionada por Estrabão(?). Esta conjuntura, onde os indícios de assentamento humano mais antigo são atribuíveis à Idade do Bronze Final, foi determinante para o estabelecimento do santuário da II Idade do Ferro e para o desenvolvimento do povoado.

A fortificação em estudo circunda o topo dos cerros, vencendo a depressão que os separa e estende-se, numa segunda linha, junto à zona ribeirinha, a Sudeste. Caracteriza-se pelo desenvolvimento em volume, mas também aproveitando afloramentos rochosos que ocorrem nas encostas abruptas. Actualmente, encontra-se camuflada pelo seu próprio derrube e pela consolidação do solo sobre o mesmo; em alguns segmentos foi destruída pela acção humana, na sequência do desenvolvimento da povoação.

A planta proposta constitui uma primeira hipótese de implantação da muralha, resultante da análise da topografia, interpretação das anomalias no terreno e informação das intervenções arqueológicas realizadas que abrangeram alguns troços, nomeadamente por Teresa Ricou, em 2002, em que se expôs um com cerca de 2.60 metros de espessura, a Sudeste do Cerro da Vila, associado a níveis estratigráficos da Idade do Ferro. Indícios da fortificação materializam-se em anomalias topográficas (interpretação da cartografia de pormenor e fotografia aérea), no reaproveitamento de pedras resultantes da desmontagem da muralha em muros de sustentação e outras construções, que parecem ter transportado para a actual malha urbana condicionantes herdadas, por hipótese, da Idade do Ferro.

Apontam-se, ainda, prováveis acessos e sistemas de entrada no interior do recinto fortificado, nomeadamente na zona baixa entre cerros, levando em consideração o importante peso da tradição oral de Garvão, onde a memória dos caminhos está fortemente preservada, em resultado do carácter de passagem e de romarias.

A abordagem topográfica detectou ainda, no sector da vertente voltada a Norte do Cerro do Forte, fortes marcas de modelação arcaica da encosta, em taludes, constituindo patamares ligados por rampas, onde abunda material atribuível às II e III Idades do Ferro (Romanização), nomeadamente cerâmica estampilhada e formas de Campaniense A (copias mais toscas da cerâmica Grega) . Aquela modelação do relevo, por hipótese associada ao santuário, de acordo com uma estimulante proposta defendida por Amílcar Guerra e colaboradores para o santuário de Endovélico, revela uma preocupação clara com a função religiosa, que deve ter desempenhado um importante papel na configuração da própria fortificação.

 

JOSÉ DANIEL MALVEIRO

CARLOS DUARTE SIMÕES

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa

publicado por José Pereira Malveiro às 00:28

05
Nov 11

Segundo os resultados preliminares dos Censos de 2011, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam que Garvão perdeu 121 habitantes de 2001 a 2011.

 

Seguindo a tendência geral de todo o Baixo Alentejo, de facto das seis freguesias do concelho de Ourique, todas desceram no número de habitantes, com quebras que oscilam entre os 10,4% para a freguesia de Ourique e os 39% para a freguesia da Conceição.

 

GARVÃO dos 851 habitantes em 2001, tem 730 em 2011, quebra de 14,2% e 121 habitantes.

 

CONCEIÇÃO dos 141 habitantes em 2001, tem 86 em 2011, com quebra de 39% e 55 habitantes.

 

OURIQUE dos 3041 habitantes em 2001, tem 2873 em 2011, com quebra de 5,5% e 168 habitantes.

 

PANOIAS dos 634 habitantes em 2001, tem 496 em 2011, com quebra de 21,8% e 138 habitantes.

 

SANTA LUZIA dos 393 habitantes em 2001, tem 352 em 2011, com quebra de 10,4% e 41 habitantes.

 

SANTANA DA SERRA dos 1139 habitantes em 2001, tem 850 em 2011, com quebra de 25,4% e 289 habitantes.

publicado por José Pereira Malveiro às 20:48

 

 

 

Uma oportunidade perdida.

 

        O número de Museus Etnográficos, ou chamemos-lhe da ruralidade, do trabalho ou das alfaias agrícolas que têm sido abertos neste últimos anos em todo o país, coloca a pretensão de fazer um museu etnográfico em Garvão fora de tempo, pela originalidade perdida.

        Aquilo que poderia ter sido uma mais valia para a terra à quinze, dez ou mesmo à cinco anos atrás encontra-se actualmente fora de originalidade, precisamente pelo imenso número de museus etnográficos abertos nestes últimos anos, alguns dos quais têm, infelizmente, encerrado, ou por falta de apoios, verbas, visitantes ou pela concorrência de outros museus mais dinâmicos, entre outras causas.

        Continua a haver espaço para este tipo de exposições seja em Garvão ou noutras terras, tem é de se procurar a tal “originalidade” perdida e inovar em termos de exposição e inclusivamente em termos museológicos.

        A ideia de expor uma série de artefactos, alfaias e outros instrumentos de trabalho num edifício para ser apreciado, poderá estar ultrapassada e não corresponder às exigências actuais, mais do que isso é preciso evoluir e levar o museu às pessoas em que o palco extrapola os muros da “Casa-Museu” e transforma a povoação na “Vila-Museu”.

publicado por José Pereira Malveiro às 20:32

02
Nov 11

 

500 anos do Foral-Novo

 

            Em 1 de Julho de 1512 o rei D. Manuel outorgou o foral-Novo a Garvão pela reforma do Foral-Velho, outorgado em Fevereiro de 1267.

            Pela reforma dos forais-velhos o rei D. Manuel procurava acabar com os particularismos locais e uniformizar estes documentos fundacionais da maioria dos concelhos portugueses, não só em termos de lei geral para o reino como em termos de escrita, pesos e medidas, que se encontravam, 250 anos depois, desactualizados.

            Os Forais-velhos foram outorgados numa altura de reconquista territorial aos Muçulmanos e de consolidação do reino, eram cartas de garantia e deveres outorgadas entre as comunidades e o rei, ou com entidades autorizadas para tal. Contudo mais do que uma “...aliança do rei e dos concelhos contra as classes privilegiadas, o clero e a fidalguia”[1], como defendeu Alexandre Herculano é de facto o reforço do poder régio, ou como afirmou Marcelo Caetano “Os reis viam no povo o aliado ideal para atingir os seus objectivos e o povo sentia no monarca a salvaguarda das suas liberdades”[2], a “liberdade” consagrada nas cartas foralengas é em relação à dependência destas comunidades autónomas face às pretensões dos senhorios e não do rei, de facto a intervenção do rei na defesa dos concelhos contra os nobres faz-se sempre à custa da autonomia concelhia.

            A chamada reforma manuelina dos Forais ou Forais de leitura nova atribuída a D. Manuel I, não deixa de ser um longo processo de reivindicação municipal iniciado durante o reinado dos seus antecessores e praticamente durante toda a segunda dinastia, não só contra os abusos e prepotência dos poderosos, como inclusivamente, de uma interpretação abusiva da carta do Foral.

            Com a redacção a escrito dos forais novos, procurou-se, também, uma actualização e uniformização da linguagem utilizada nas redacções dos diversos forais velhos, e inclusivamente uma unificação dos dinheiros, pesos e medidas até aí desigual e variável entre os vários lugares do reino, para uma melhor facilidade nas trocas comercias, ente as várias regiões, e um efectivo cumprimento das obrigações foraleiras.

            Celebra-se assim no próximo ano, a 1 de Junho, os 500 anos da outorga do Foral-Novo a Garvão.

            Espera-se com a notícia deste acontecimento praticamente a um ano deste data, não só despertar interesses, para a respectiva comemoração, como, também que o livro “O Foral-Novo de Garvão” se encontre publicado.


 


[1] Alexandre Herculano, História de Portugal III, Lisboa, Círculo de Leitores, 1987, p.98

[2] Marcelo Caetano. História do Direito Português (1140-1495), Lisboa, Verbo, 1981

publicado por José Pereira Malveiro às 18:15

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