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A IMPORTÂNCIA DE UM GRAFITO, NA BASE DE UMA CERÂMICA, DESCOBERTO NO DEPÓSITO VOTIVO DE GARVÃO 

 

Entendia-se que a primeira forma de escrita na Península Ibérica, introduzida pelos Fenícios e adaptada às línguas locais (ou nas próprias línguas destes navegadores do Levante Mediterrâneo), estaria em uso entre os séculos VII e V a.C., segundo as inúmeras estelas epigrafas encontradas e o contexto em que estavam inseridas, considerando-se extinta a partir dessa data.

 

Contudo a descoberta destas inscrições na base de uma taça no Depósito Votivo de Garvão do século II a.C., coloca Garvão e Alcácer do Sal, (pelas moedas encontradas), os locais onde mais tardiamente se manifesta a utilização e o conhecimento desta escrita, para muito além do que era vulgarmente entendido. 

 

"Em Garvão identificou-se um grafito (Alarcão e Santos 1996, 272 nº 32), de leitura discutida (Correa 1996a), sobre a base de um vaso do depósito votivo. Independentemente da sua leitura o seu achado é muito importante pela sua cronologia e a sua paleografia significativa pela sua proximidade à da amoedação de Alcácer do Sal (cf. Correia 2004b)." 

 

"O grafito de Garvão documenta a extensão do uso da escrita do Sudoeste, mesmo já fora do seu uso mais tradicional da epigrafia funerária, até meados do séc. II a.C. (Beirão et alii 1985, Correia 1996b); é essa data do fecho do depósito votivo e o grafito foi feito numa das peças de tipologia mais comum nesse depósito, sendo por isso natural pensar que não era uma peça muito antiga quando foi ocultada.

  

Esta datação permite afirmar que o grafito de Garvão é genericamente contemporâneo da legenda indígena da amoedação de Alcácer do Sal, sendo portanto necessário abandonar o mais forte argumento quanto à não pertença dessa amoedação ao signário do Sudoeste, que era precisamente a questão das datas conhecidas de utilização de um e de outro (Correia 2004c).

 

Retirado este Argumento (contra Faria 1991), não há razão para se não valorizarem alguns indícios paleográficos presentes numa e noutra inscrição, que abonariam a favor da pertença de ambos ao mesmo corpus epigráfico, o do Sudoeste."

 


In: A ESCRITA DO SUDOESTE: UMA VISÃO RETROSPECTIVA E PROSPECTIVA, Virgílio Hipólito Correia

 

publicado por José Pereira Malveiro às 01:31

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