ESTELA EPIGRAFADA ROMANA DOS FRANCISCOS
"A Herdade dos Franciscos è um dos latifúndios da freguesia de Garvão, situando-se apenas a cerca de 1km a sul daquela vila. Administrativamente pertence ao concelho de Ourique e ao distrito de Beja. O monumento funerário agora dado a conhecer foi descoberto avulso, numa extensa zona da herdade onde se observam ruínas, talvez de um vicus, ou de uma villa rustica e de onde provêm outros materiais do período romano."
"Caetano Beirão e José Olívio Caeiro procederam ali a escavações de emergência, numa área que iria ser afectada pela construção de uma estrada, identificando-se na altura restos de estruturas habitacionais e materiais romanos que abrangem um período situado entre os séculos I e III d.C."
"A leitura desta epígrafe, com luz rasante, permitindo-nos executar o decalque cuja redução apresentamos na fig. 2 sempre preferível a um desenho, é a seguinte:"
LADRONV[S] / DOVAI • BRA[CA]RVS • CASTEL[LO] / DVRBEDE • [H]IC / SITUS • ES[T] • AN[N]ORV[M] XXX (triginta?) / [S(it)] • [T(ibi)] • T(erra) • L(evis) •
"A sua tradução parece não oferecer grandes problemas propondo-se:"
Aqui jaz Ladronus (filho de) Dovaios, Bracarus do Castello Durbed, de trinta anos de idade. Que a terra seja leve.
"A estela dos Franciscos é, pois, um importante monumento, atribuível ao séc. II ou aos inícios do século III d.C., cuja forma e realização se integra, como vimos, no tipo de lápides encontradas no Sudoeste Alentejano (concelhos de Aljustrel, Ourique e Almodôvar) (Encarnação, 1978), embora o seu conteúdo mantenha estreitas ligações com a epigrafia do Noroeste, sobretudo no plano onomástico, para o qual encontrámos paralelos maioritariamente no Conventus Bracarensis (Fig.1)."
"Ainda recentemente também M. Manuela A. Dias (1979), num bem fundamentado trabalho, reconheceu a origem norte-peninsular de muitos antropónimos registados em estelas do Conventus Pacensis, encontrando uma possível explicação na emigração com vista aos trabalhos de mineração. Estes movimentos migratórios que fazem instalar populações do norte da península no Sul e Sudoeste Ibérico, ocupadas tanto na agricultura como na mineração, mostram, em última análise e de modo claro, as diferentes dinâmicas da ocupação territorial da Península, revelando-nos afinal a mesma fraca densidade populacional que ainda hoje conhecemos nas terras do sul, mais avessas à instalação das comunidades humanas."
in: GOMES, Rosa Varela; GOMES, Mário Varela (1984) Uma estela epigrafada da Herdade dos Franciscos, "Conimbriga", 23, p. 43-54. ...