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O QUE É QUE O CEMITÉRIO VELHO A IGREJA DO SAGRADO ESPÍRITO SANTO E AS FESTAS DE GARVÃO TÊM DE COMUM?

 

Pelas revoluções Liberais de 1820, que acabou com o Concelho de Garvão, promulgou-se a lei da proibição de enterrar os mortos nos adros das igrejas e a obrigatoriedade dos Municípios construírem Cemitérios nas povoações.

 

Em todo o reino se construíram cemitérios novos menos em Garvão, onde preferiram derrubar a Igreja para o cemitério ficar no mesmo lugar.

 

De facto os restos da Igreja do Sagrado Espírito Santo ainda são visíveis na estrutura do Cemitério Velho, são paredes sobrepostas e restos dos contrafortes, pinturas, pia baptismal, fechos das abóbadas e estelas funerárias do adro da referida Igreja.

 

Desde a fundação da Misericórdia de Garvão no século XVI que esta tentou apoderar-se dos bens da Irmandade do Sagrado Espírito Santo fundada nos séculos anteriores e era a detentora de propriedades como o Arzil, Mau Passo, Monxica, Pixouto, Val de Inxares, Carvalheira e outras, o que veio a conseguir e acabar com a Irmandade ficando a Igreja ao abandono até à sua completa destruição para fazerem o cemitério.

 

A Irmandade do Sagrado Espírito Santo, caracterizava-se por ter, para além das propriedades, a referida Igreja, o hospital e as festas do Espírito Santo, onde a população se divertia toureando um touro que depois matavam e alimentavam a população mais pobre, daí a força da tradição da festa Barranquenha e outras vilas alentejanas que se arreigam do mesmo direito de matarem o touro para o “Bodo” dos pobres, e da festa do pão em Tomar para alimentarem os pobres pelas festas dos Espírito Santo.

 

As Festas de Garvão, já sem a tradição de outrora e desvirtuada das tradições que lhe deram origem, terão também a sua origem nestas tradições do "Bodo" do Espirito Santo.

 

Assim este conjunto arquitectónico Cemitério/Igreja/Ossário, continua abandonado e a degradar-se, já foi horta e curral de ovelhas, as centenárias oliveiras cortadas e os gradeamentos das campas postas a um canto para o gado não fugir, os gradeamentos das campas já foram treze, hoje está reduzido a cinco, das cruzes das cabeceiras já só restam duas.

 

publicado por José Pereira às 17:39

No Livro Garvão Herança Histórica que escreveu, diz lá que o Cemitério da Sardoa foi construído em 1937.
Então se o governo mandou cá para fora uma lei em 1820 para construírem Cemitérios, porque é que então o Cemitério da Sardoa só foi construído em 1937 ?
O que é que se passou nestes 117 anos, onde é que enterravam os mortos?
Anonimo a 14 de Junho de 2009 às 21:54


A Revolução Liberal de 1820, data o início de uma série de acontecimentos que transformou radicalmente a sociedade portuguesa da altura.

A lei que proibiu o enterramento nas Igrejas, assim como outras medidas de ordem sanitária, foi iniciada durante o Cabralismo, 1842, (um dos vários governos que caracteriza as sociedades em processo revolucionário e que a este período também não foi estranho).

Se por um lado o governo pretendia acabar com os enterramentos nos adros das Igrejas, por motivos de saúde pública, devido ao excesso de corpos enterrados nos adros das Igrejas, mal enterrados e em decomposição, por outro lado a população exigia continuar a enterrar os seus mortos em chão sagrado.

Apesar de já com o Marquês de Pombal se ter observado uma série de restrições às actividades do clero e da nobreza, expulsão dos Jesuítas, restrição no número de capelas e bens deixados em legado para as missas por alma, o Portugal setecentista ainda era marcado por um regime feudal, despótico, de natureza e predominância religiosa.

Foi com a revolução Liberal que se procedeu a uma reforma efectiva da sociedade portuguesa, de tais proporções, inimagináveis aos olhos actuais.
- Conseguimos hoje imaginar a ida a uma igreja com o cheiro a carne podre em decomposição e putrefacta que infestava os ares da vizinhança?
- Conseguimos hoje imaginar uma sociedade marcada por missas e procissões em que os bens fundiários eram deixados ás ordens religiosas para rezarem pela sua alma para a salvação eterna? Em que inclusivamente o próprio Marquês de Pombal, (marcado por um regime absolutista) se interrogava «… e se chegará ao caso de serem as almas do outro mundo senhoras de todos os prédios destes reinos …»
- Conseguimos hoje imaginar uma sociedade sem médicos, sem doentes, (ladainhas, unguentos, rezas e apelos à intervenção divina eram as esperanças dos doentes) em que metade da população morria antes dos sete anos e a expectativa de vida, dos sobreviventes, não passava dos cinquenta anos?

Se os sucessivos governos Liberais foram introduzindo reformas na sociedade:
- Mouzinho da Silveira, aboliu os Morgados e capelas, introduziu as novas divisões administrativas e judiciais (tão nefasto para Garvão com a abolição do Concelho).
- Joaquim António de Aguiar, nacionalizou os conventos e mosteiros e outros bens das ordens religiosas, e subsequente venda em haste pública.
- Foi com Costa Cabral que efectivamente se proibiu o enterramento nas Igrejas e provocou o inicio dum período de descontentamento e revolta popular generalizado, aliás, foi a revolta da Maria da Fonte, em 1846, precisamente contra a obrigatoriedade de enterrar os mortos nos novos cemitérios públicos e a proibição de continuar a enterrar os seus mortos em solo sagrado nos adros das igrejas que provocou a única revolta popular em Portugal.

Contudo, no seguimento da guerra civil que se seguiu, e subsequente constituição de um governo moderado, nomeado pela Rainha D. Maria II, a lei vingou e a proibição de enterrar os mortos nas Igrejas e a construção de cemitérios tornou-se efectiva.
Em Garvão esta lei também se aplicava, no local onde está actualmente o Cemitério Velho, existia a Igreja do Sagrado Espírito Santo em cujo solo se enterrava os defuntos. Devido ao asenhoramento dos bens da irmandade do Sagrado Espírito Santo pela Santa Casa da Misericórdia de Garvão, a Igreja foi ficando em ruínas, e em vês de fazerem um Cemitério novo noutro local conforme estipulava a lei, preferiram derrubar o que restava da dita Igreja para o Cemitério ficar no mesmo local.
Os mortos continuaram a ser enterrados no mesmo local, agora convertido em Cemitério em obediência à nova lei, até 1937 altura em que foi construído o Cemitério da Sardoa, já em pleno Estado Novo, ainda existe pessoas de Garvão com familiares enterrados no Cemitério Velho.

E então o Cemitério Antigo, que está situado entre o Furadouro e a Estrada Real, confirmado pela tradição oral, cartas topográficas antigas e vestígios no terreno, que Cemitério seria este?


Pois! já vi que você gosta de história.
Pois faz bem, em dar a conhecer estes episódios da história de Portugal , que afectam , também, a nossa terra.
Não vou dizer nada de especial, só me limito a ler, com muito interesse aquilo que escreve, mas quero aqui deixar o meu apoio e dizer-lhe que não tenho feito comentários mas quero dar-lhe força para continuar porque assim como eu existe muitas pessoas que lêem o que escreve.
Anónimo a 24 de Junho de 2009 às 13:45

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